Selic a 15%: Por que o Banco Central Voltou a Elevar a Selic?
- Ricardo São Pedro
- 19 de jun.
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Atualizado: 27 de jun.

Publicado em 19/06/2025
Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu elevar novamente a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto percentual, levando-a para 15% ao ano. Esta decisão, que marca a continuidade do ciclo de aperto monetário, reflete um cenário econômico complexo e desafiador tanto no âmbito doméstico quanto internacional.
O Cenário Externo: Incertezas Vindas dos Estados Unidos
O ambiente internacional continua sendo uma fonte de preocupação para as autoridades monetárias brasileiras. A principal fonte de incerteza reside nas políticas econômicas dos Estados Unidos, especialmente no que diz respeito às políticas comercial e fiscal do país. Essas indefinições têm gerado volatilidade nos mercados financeiros globais, afetando diferentes classes de ativos e, consequentemente, as condições financeiras em escala mundial.
Para países emergentes como o Brasil, esse cenário de incerteza externa exige cautela adicional, especialmente em um momento de acirramento das tensões geopolíticas globais. A volatilidade externa pode impactar diretamente a taxa de câmbio, os fluxos de capital e, por consequência, a dinâmica inflacionária doméstica.
A Economia Brasileira e a Selic
: Dinamismo com Moderação
No front doméstico, os indicadores econômicos apresentam um quadro de relativo dinamismo, mas com sinais de moderação. O mercado de trabalho mantém-se aquecido, e a atividade econômica, embora ainda apresente crescimento, tem mostrado uma desaceleração gradual.
Contudo, o grande desafio permanece sendo a inflação. Os dados mais recentes mostram que tanto a inflação cheia quanto as medidas subjacentes (que excluem itens mais voláteis) continuam acima da meta estabelecida pelo governo, que é de 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Expectativas Desancoradas: O Grande Problema
Um dos aspectos mais preocupantes do cenário atual é o descolamento das expectativas de inflação. Segundo a pesquisa Focus, que capta as projeções dos analistas de mercado, as expectativas para 2025 e 2026 permanecem significativamente acima da meta, situando-se em 5,2% e 4,5%, respectivamente.
Quando as expectativas se desancorarem da meta, como está acontecendo, elas podem se tornar autoprofetizantes. Isso significa que empresários e trabalhadores, acreditando que a inflação será alta, ajustam preços e salários de forma antecipada, criando um ciclo vicioso que pode perpetuar a alta dos preços.
Os Riscos no Horizonte
O Banco Central identifica riscos tanto para alta quanto para baixa da inflação, mas ressalta que esses riscos estão "mais elevados do que o usual". Entre os principais riscos de alta estão:
Riscos de Alta:
Desancoragem prolongada das expectativas inflacionárias
Maior resiliência na inflação de serviços devido a um mercado de trabalho aquecido
Impactos inflacionários de políticas econômicas, incluindo uma possível depreciação persistente do real
Riscos de Baixa:
Desaceleração mais acentuada da economia doméstica
Impactos de uma possível desaceleração global mais pronunciada
Queda nos preços de commodities com efeitos desinflacionários
A Questão Fiscal em Foco
O comunicado do Copom destaca que o comitê "segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros". Esta menção não é casual. As dúvidas sobre a sustentabilidade das contas públicas brasileiras têm gerado pressões sobre o câmbio e as expectativas inflacionárias.
A percepção de que o governo pode ter dificuldades para controlar o déficit fiscal leva os investidores a exigir prêmios de risco maiores, pressionando a taxa de câmbio e, consequentemente, a inflação via preços de produtos importados.
A Estratégia do Banco Central
A elevação da Selic para 15% faz parte de uma estratégia de política monetária "significativamente contracionista por período bastante prolongado". O objetivo é claro: garantir que a inflação convirja para a meta em um ambiente de expectativas desancoradas.
O Banco Central sinaliza que pode interromper o ciclo de alta dos juros para avaliar os impactos acumulados dos aumentos já realizados. Contudo, a autoridade monetária deixa claro que "não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado".
Impactos para a Economia e a População
Uma Selic a 15% traz consequências diretas para diversos setores da economia:
Para o Consumidor: Juros mais altos encarecem o crédito, desde financiamentos imobiliários até cartão de crédito e crediário, reduzindo o poder de compra das famílias.
Para as Empresas: O custo de capital mais elevado desestimula investimentos e pode levar a uma redução na contratação de mão de obra.
Para os Investidores: Aplicações em renda fixa tornam-se mais atrativas, podendo atrair recursos que anteriormente iriam para renda variável ou consumo.
Perspectivas para o Futuro
O Banco Central projeta inflação de 4,9% para 2025 e 3,6% para 2026 em seu cenário de referência. Essas projeções consideram a manutenção da política monetária restritiva e dependem da materialização de suas premissas sobre câmbio, preços de commodities e política fiscal.
A trajetória dos juros nos próximos meses dependerá fundamentalmente da evolução das expectativas inflacionárias e dos dados de inflação efetiva. Caso as expectativas comecem a se ancorar próximo à meta e a inflação apresente sinais consistentes de desaceleração, o Banco Central poderá considerar uma pausa no ciclo de alta.
A decisão de elevar a Selic para 15% reflete a determinação do Banco Central em combater a inflação e reancora as expectativas, mesmo que isso implique em um período de crescimento econômico mais baixo. Em um cenário de incertezas externas e desafios fiscais internos, a autoridade monetária opta por uma postura cautelosa e restritiva.
Para a população brasileira, isso significa mais um período de persistência de juros altos, crédito mais caro e crescimento econômico mais lento. Contudo, o objetivo final é preservar o poder de compra da moeda e garantir um ambiente de estabilidade de preços, fundamental para o desenvolvimento econômico sustentável no longo prazo.
A eficácia dessa estratégia dependerá não apenas da política monetária, mas também de como evoluirão as questões fiscais domésticas e o cenário econômico internacional. O Banco Central demonstra estar preparado para ajustar sua estratégia conforme necessário, mantendo o foco em seu mandato principal: a estabilidade de preços.
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