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Copom mantém Selic em 15% ao ano diante de incertezas externas e pressões inflacionárias

Sede do Banco Central em Brasília.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros (Selic) em 15,00% ao ano.

Publicado em 17/09/2025

Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)


O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros (Selic) em 15,00% ao ano. A decisão reflete um ambiente global instável, a persistência de pressões inflacionárias no Brasil e a necessidade de uma postura de cautela para garantir a convergência da inflação em direção à meta.


O contexto internacional: incertezas e tensões geopolíticas


No cenário externo, a política econômica dos Estados Unidos e o quadro geopolítico global continuam sendo fontes de instabilidade. Esse ambiente tem provocado oscilações relevantes em diferentes classes de ativos e afetado as condições financeiras internacionais. Para economias emergentes, como o Brasil, isso implica riscos adicionais e exige que a política monetária seja conduzida com prudência redobrada.


A economia doméstica: moderação no crescimento e mercado de trabalho aquecido


No âmbito interno, os indicadores de atividade econômica apontam para uma moderação no ritmo de crescimento, em linha com o esperado. Ainda assim, o mercado de trabalho segue demonstrando resiliência, com impacto direto sobre a inflação de serviços.


Apesar da desaceleração parcial da economia, os índices de preços continuam acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). As expectativas apuradas na pesquisa Focus permanecem desancoradas: para 2025, a projeção de inflação está em 4,8%, e para 2026, em 4,3%, ambos acima do centro da meta de 3%.


Riscos para a inflação: de ambos os lados


O Comitê identificou riscos elevados tanto de alta quanto de baixa para a inflação.


  • Riscos de alta:

    1. Desancoragem mais persistente das expectativas de inflação.

    2. Inflação de serviços mais resiliente, sustentada por um mercado de trabalho aquecido.

    3. Efeitos de políticas econômicas internas e externas que podem levar a uma depreciação mais duradoura do câmbio.

  • Riscos de baixa:

    1. Desaceleração da atividade econômica doméstica mais intensa do que o previsto.

    2. Retração global mais acentuada, fruto de choques comerciais e maior incerteza.

    3. Queda nos preços das commodities, contribuindo para um movimento desinflacionário.


Impactos fiscais e comerciais


O Copom destacou que segue monitorando os efeitos das tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil e os desdobramentos da política fiscal doméstica, que podem afetar a condução da política monetária e o comportamento dos ativos financeiros.


A decisão: Selic em patamar contracionista prolongado


Segundo o Comitê, a manutenção da Selic em 15% ao ano é compatível com a estratégia de trazer a inflação para o redor da meta, ainda que em horizonte mais longo. O comunicado reforça que a taxa de juros deverá permanecer em nível significativamente contracionista por período prolongado, como forma de compensar o atual quadro de expectativas desancoradas.


O Copom ressaltou ainda que não hesitará em retomar os ajustes, caso considere necessário. Ou seja, a política monetária seguirá vigilante e poderá ser endurecida novamente se as condições indicarem novos riscos para a estabilidade de preços.


Projeções oficiais de inflação (cenário de referência)


Índice de preços

2025

2026

1º tri 2027

IPCA

4,8

3,6

3,4

IPCA livres

5,0

3,5

3,3

IPCA administrados

4,3

3,8

3,8


Essas projeções consideram a taxa de câmbio inicial em R$ 5,40/US$, com evolução segundo a paridade do poder de compra (PPC), petróleo acompanhando a curva futura por seis meses e posterior aumento de 2% ao ano, além da hipótese de bandeira tarifária verde nos finais de 2025 e 2026.


Considerações finais


A decisão do Copom evidencia a prioridade do Banco Central em assegurar a estabilidade de preços em um ambiente de incerteza elevada, tanto no plano internacional quanto doméstico. Com expectativas desancoradas, projeções de inflação persistentes e atividade econômica ainda resiliente, a manutenção da Selic em 15% reforça a necessidade de uma política monetária firme e vigilante.


O desafio, daqui para frente, será calibrar essa postura contracionista de forma a conter as pressões inflacionárias sem comprometer excessivamente o dinamismo da atividade econômica e do mercado de trabalho.

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