Por que o Brasil cresce pouco? Uma armadilha entre desigualdade e democracia
- Ricardo São Pedro

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Atualizado: há 4 dias

Publicado em 29/10/2025 / 16:00
Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)
Por décadas, o Brasil é descrito como “o país do futuro”. A expressão, que nasceu otimista, hoje soa quase irônica. Afinal, passadas tantas promessas, seguimos convivendo com baixo crescimento econômico, desigualdade persistente e um Estado pesado, mas ineficiente. Por que, afinal, o Brasil cresce tão pouco?
O economista e pesquisador Marcos Mendes, em seu livro Por que o Brasil cresce pouco?, oferece uma resposta provocadora e bem estruturada. Para ele, o problema não está apenas em políticas mal desenhadas ou em crises passageiras. O que limita nosso crescimento é algo mais profundo: a combinação entre uma democracia ampla e uma desigualdade muito alta, que cria uma verdadeira armadilha institucional.
A armadilha brasileira: democracia e desigualdade
Em democracias maduras, as políticas públicas tendem a refletir o interesse coletivo. Mas em um país com desigualdade extrema, a lógica muda. Cada grupo social — das elites econômicas às corporações e grupos organizados — busca proteger seus próprios benefícios e transferir custos para os demais. O resultado é um Estado capturado por múltiplos interesses, com gastos crescentes, pouca eficiência e baixo retorno para a sociedade.
Esse processo, segundo Mendes, faz o país gastar muito e crescer pouco. A desigualdade cria pressões sociais legítimas por redistribuição, mas o Estado, sem capacidade de priorizar bem, responde com políticas fragmentadas: benefícios setoriais, isenções fiscais, subsídios mal direcionados e programas que aliviam a pobreza, mas não aumentam a produtividade.
Os sintomas do baixo crescimento
O autor identifica uma série de “fatos estilizados” — sinais que se repetem ao longo de nossa história recente:
Baixa taxa de poupança e investimento, que reduz a capacidade de expandir o capital produtivo.
Infraestrutura deficiente, que encarece o transporte e a logística.
Educação de baixa qualidade, incapaz de gerar o salto de produtividade necessário.
Ambiente de negócios complexo e instável, que desestimula o empreendedorismo e a inovação.
Carga tributária alta e mal distribuída, com peso sobre o consumo e o trabalho formal.
Cada um desses pontos seria grave por si só. Mas, como lembra Mendes, o problema maior é que eles derivam de uma mesma raiz institucional — a dificuldade de coordenar decisões em uma democracia marcada por desigualdade e fragmentação política.
O custo da paralisia
Essa estrutura produz um Estado que tenta agradar a todos e acaba não resolvendo o essencial. Os gastos públicos aumentam, mas o retorno em crescimento é baixo. A dívida sobe, a confiança cai, e o investimento privado se retrai. Entramos, então, em um círculo vicioso: baixo crescimento gera mais pressão por gasto social, o que por sua vez agrava o desequilíbrio fiscal e mantém o crescimento baixo.
O autor não defende o abandono das políticas sociais, mas argumenta que a redistribuição sem aumento de produtividade é insustentável. A verdadeira inclusão, diz ele, precisa ser produtiva — baseada em educação de qualidade, empregos formais e competitividade.
O caminho possível
Marcos Mendes não oferece uma solução mágica, mas aponta direções claras:
Reformas institucionais que reduzam a fragmentação política e melhorem a qualidade do gasto público;
Foco em capital humano, com políticas educacionais que preparem para o trabalho e a inovação;
Melhoria do ambiente de negócios, com regras estáveis e simples;
Transição da inclusão assistencial para a inclusão produtiva, tornando os programas sociais um trampolim, não um ponto final.
Esses caminhos exigem liderança, coerência e tempo — três recursos escassos na política brasileira. Mas sem eles, continuaremos presos ao ciclo de baixo crescimento e alta desigualdade.
Por que o Brasil cresce pouco? Um alerta e um convite à reflexão
O livro de Marcos Mendes é, antes de tudo, um convite à honestidade intelectual. Ele nos força a olhar para além dos culpados de ocasião e reconhecer que o problema brasileiro é estrutural. É um sistema que, tal como está desenhado, produz exatamente os resultados que temos.
Reconhecer isso é o primeiro passo para mudar.Crescer mais e melhor não depende apenas de ajustar o PIB, mas de reconstruir os incentivos que moldam o Estado e a sociedade. Enquanto a desigualdade determinar a política e a política se adaptar à desigualdade, o futuro continuará sendo promessa — e não realidade.
Ricardo São Pedro é engenheiro civil com MBA em Planejamento Financeiro Pessoal e Familiar. Atua como educador e planejador financeiro, promovendo a educação financeira como instrumento de cidadania e transformação social. Idealizador da web rádio Radium, produz e apresenta programas que integram finanças, bem-estar e temas relevantes para a vida dos brasileiros. Também assina artigos no blog da rádio e participa de projetos voltados à inclusão e à segurança financeira das famílias.










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