Inadimplência no Brasil atinge recorde em setembro e pode crescer até o fim do ano
- Ricardo São Pedro
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A inadimplência no Brasil voltou a crescer em setembro, segundo dados da CNC. Entenda os fatores que explicam esse aumento, os impactos para famílias e empresas, e confira nossas projeções exclusivas para o fim de 2025 com base em modelagem própria.

Publicado em 09/10/2025 / 22:00
Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)
A inadimplência das famílias brasileiras, da inadimplência no Brasil, voltou a subir e atingiu 30,5% em setembro de 2025, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Trata-se do maior patamar da série histórica da pesquisa — e um sinal de alerta importante para a economia do país nos próximos meses.
Mais do que um dado pontual, esse aumento expõe a combinação de juros elevados, orçamentos domésticos pressionados e endividamento persistente. O resultado: uma parcela crescente da população com dificuldade real de pagar suas dívidas.
Um retrato preocupante da inadimplência no Brasil
Segundo a CNC, 13% das famílias endividadas afirmam não ter condições de quitar o que devem, e 48,7% estão com pagamentos atrasados há mais de 90 dias. Além disso, 18,8% das famílias têm mais da metade de sua renda mensal comprometida com dívidas. Esses números indicam um endividamento estrutural, e não apenas atrasos de curto prazo.
Outro ponto relevante: 79,2% das famílias estão endividadas, um percentual elevado que pressiona orçamentos e reduz a capacidade de consumo.
Por que setembro?
Embora a inadimplência esteja em alta há meses, setembro costuma ser um mês de inflexão financeira para muitas famílias. Isso ocorre por vários motivos:
Acúmulo de pressões orçamentárias ao longo do ano — reservas se esgotam, e dívidas atrasadas começam a “estourar”.
Reajustes e vencimentos sazonais, como aluguel, condomínio e mensalidades escolares, que pesam no bolso.
Desalinhamento entre renda e despesas, já que muitos benefícios ou rendimentos extras concentram-se no início do ano.
Efeito retardado da política monetária — juros altos e crédito caro começam a mostrar seus efeitos reais alguns meses depois.
Assim, setembro funciona como um “termômetro financeiro” que revela a fragilidade acumulada ao longo do ano.
Projeções até dezembro de 2025
Para avaliar o que pode acontecer até o fim do ano, simulamos três cenários — otimista, base e pessimista — levando em conta a tendência atual, os juros elevados e o nível de endividamento das famílias.
Cenário | Inadimplência atual (Set) | Estimativa Dez/2025 | Variação (p.p.) |
Otimista | 30,5% | 30,2% | −0,3 |
Base (estabilização) | 30,5% | 30,7% | +0,15 |
Pessimista | 30,5% | 31,4% | +0,9 |
Pessimista extremo | 30,5% | 32,3% | +1,8 |
Mesmo no cenário base, a inadimplência deve permanecer elevada — e no pessimista, pode chegar a 31,4% até dezembro.
Impacto no consumo
Quando mais famílias atrasam dívidas, menos dinheiro sobra para consumo.Com base em uma elasticidade conservadora, estimamos que:
+1 p.p. de inadimplência → queda de 0,20% no consumo agregado no trimestre seguinte.
Em cenário pessimista, isso representa uma redução de 0,18% no nível de consumo até o fim do ano.
Embora o percentual pareça pequeno, o impacto se concentra em setores sensíveis — como varejo, eletrodomésticos, alimentação fora do lar e comércio eletrônico — podendo gerar retrações localizadas relevantes.
Risco bancário e crédito mais caro
Um aumento de 1 p.p. na inadimplência pode elevar em até 0,06 p.p. o índice de NPLs (créditos em atraso) dos bancos. No cenário pessimista, isso exigiria maior provisão para perdas, pressionando o custo do crédito e restringindo o acesso a novas linhas de financiamento, principalmente para famílias de baixa renda.
Esse ciclo — mais inadimplência, mais risco, crédito mais caro — pode agravar o problema se não houver medidas de contenção.
O que pode ser feito
Para evitar que a inadimplência se transforme em uma bola de neve, algumas ações são estratégicas:
Renegociações com prazos mais longos para reduzir encargos sobre dívidas rotativas (como cartão e cheque especial).
Campanhas de educação financeira voltadas a famílias com alto comprometimento de renda.
Monitoramento granular da inadimplência, especialmente nos segmentos mais vulneráveis.
Política monetária e de crédito bem calibrada, evitando que o custo do dinheiro inviabilize renegociações.
O recado dos números
O aumento da inadimplência em setembro não é um fato isolado: é um alerta sobre a fragilidade financeira estrutural de milhões de brasileiros.
Com juros altos, crédito caro e pouca margem no orçamento familiar, cada atraso tem mais chance de virar dívida crônica. A boa notícia é que ainda há espaço para mitigar riscos por meio de renegociação, educação financeira e políticas de crédito mais inteligentes.
Os próximos meses serão decisivos para saber se a curva da inadimplência vai estabilizar ou se aprofundar — e isso terá impacto direto no consumo, no crédito e no crescimento econômico do país.
Ricardo São Pedro é engenheiro civil com MBA em Planejamento Financeiro Pessoal e Familiar. Atua como educador e planejador financeiro, promovendo a educação financeira como instrumento de cidadania e transformação social. Idealizador da web rádio Radium, produz e apresenta programas que integram finanças, bem-estar e temas relevantes para a vida dos brasileiros. Também assina artigos no blog da rádio e participa de projetos voltados à inclusão e à segurança financeira das famílias.
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