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SER ou PARECER SER? Os Custos Psicológicos e Financeiros de Viver de Aparências

Atualizado: 20 de jun.

Jovem olhando para o espelho com expressão reflexiva, segurando uma máscara de papel — representação simbólica do conflito entre identidade real e aparência social.
O peso das aparências: jovens enfrentam consequências emocionais e financeiras ao tentar parecer o que não são.

Publicado em 13/06/2025

Por Silvia Alambert Hala (@silviaalambert_edufin)


Vivemos em uma era onde a imagem muitas vezes fala mais alto que o conteúdo, onde o “feed” parece valer mais do que a vida real e o desejo de “parecer ser” algo — bem-sucedido, feliz, rico, inteligente, desejado — tem sido uma armadilha silenciosa, especialmente para os jovens, que estão em formação de identidade e ainda não consolidaram sua autoestima.


Sim. É sobre esse tema do dilema humano, ancestral e contemporâneo, que vamos refletir sobre como esse comportamento pode afetar emocional e financeiramente a vida de um indivíduo e de sua família.


A ilusão do “parecer ser”


Desde cedo, somos ensinados que “ser” é o ideal — ser honesto, ser competente, ser gentil – mas, em algum momento do nosso crescimento, começamos a perceber que o mundo valoriza também o que se “parece ser”. Assim, sem perceber, muitos jovens (e adultos também) se esforçam mais para parecer felizes do que para buscar a verdadeira felicidade; mais para parecer ricos, populares e desejáveis do que para se tornarem financeiramente saudáveis ou emocionalmente seguros.


Ser ou parecer ser


O conflito entre “ser” e “parecer ser” está ligado à necessidade humana de aceitação e pertencimento. Conforme o psicólogo Abraham Maslow nos ensina em sua hierarquia das necessidades, após suprirmos as necessidades fisiológicas e de segurança, buscamos pertencimento e reconhecimento. Quando o pertencimento depende de aparência e não de essência, abrimos mão de quem realmente somos para vestir máscaras sociais.


Estudos mostram que adolescentes e jovens adultos são os mais vulneráveis a essa armadilha.

De acordo com uma pesquisa da Royal Society for Public Health do Reino Unido, o uso excessivo das redes sociais está associado a níveis mais altos de ansiedade, depressão, baixa autoestima e insatisfação corporal — sintomas fortemente ligados à tentativa constante de “parecer ser”.


O psicólogo Carl Rogers, em sua obra “Tornar-se Pessoa”, já dizia que o caminho para a saúde mental está em abandonar as máscaras e aceitar-se como realmente se é. O afastamento entre o “eu real” e o “eu idealizado” gera sofrimento psíquico profundo. A manutenção de uma vida baseada na aparência exige energia emocional, financeira e cognitiva, e quando essa conta não fecha, a crise se instala.


A necessidade de manter um status pode levar jovens (e adultos) a consumir de forma impulsiva, gastar além do que ganham e entrar em dívidas para “manter as aparências”. Comprar roupas caras, frequentar lugares sofisticados, exibir acessórios de última geração — tudo isso pode parecer inofensivo num primeiro momento, mas se torna um padrão tóxico quando compromete a saúde financeira e o bem-estar familiar.


Segundo levantamento do SPC Brasil, 38% dos jovens entre 18 e 24 anos já ficaram inadimplentes por fazer compras para impressionar amigos ou aparentar um estilo de vida que não condiz com sua realidade. Isso se torna ainda mais preocupante quando esse comportamento é incentivado pelos próprios pais ou ignorado pelas escolas, que ainda não tratam educação emocional e financeira com a seriedade necessária.


Quando a distância entre quem a pessoa é e quem ela aparenta ser se torna insustentável, surgem os transtornos emocionais. A vergonha de não “dar conta”, o medo de ser descoberto, o vazio por não se reconhecer mais… Tudo isso pode levar a crises de identidade e depressão profunda.


Casos extremos, infelizmente, não são raros. A psicóloga Brené Brown, em seu livro “A Coragem de Ser Imperfeito”, descreve como a vergonha pode se tornar uma prisão que impede as pessoas de buscar ajuda e se libertarem das armadilhas que elas mesmas criaram. Em contextos graves, isso pode levar até ao suicídio. A Organização Mundial da Saúde alerta que o suicídio é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo, e a pressão social está entre os principais gatilhos.


A atividade prática: “O espelho e a máscara”


Objetivo: Levar jovens a refletirem sobre sua identidade real e sobre o que sentem que precisam parecer ser para agradar ou pertencer.


Materiais: Espelho pequeno, papel, caneta e duas máscaras de papel (podem ser feitas com cartolina ou folhas impressas).


Etapas:


1.         Reflexão silenciosa (5 minutos): Peça que os jovens fiquem em silêncio, olhando para o espelho, e escrevam em um papel: “Quem eu sou, de verdade?”

2.         Construção da Máscara 1: Cada um deve escrever ou desenhar, na primeira máscara, tudo o que sente que precisa “parecer ser” para se sentir aceito ou reconhecido (ex: magro, rico, inteligente, divertido, etc).

3.         Construção da Máscara 2: Agora, escrevam na segunda máscara o que os outros esperam que eles sejam (pais, professores, amigos, redes sociais).

4.         Discussão em grupo: Compartilhem (voluntariamente) as máscaras. Pergunte: “O que te impede de ser quem você é? Você se sente cansado por manter essas máscaras?”

5.         Conclusão: Rasguem as máscaras e guardem o papel com a frase “Quem eu sou, de verdade?” como um compromisso de buscar autenticidade.


Uma jornada interior


Este artigo não é só para jovens — é para todos nós. Quantas vezes já caímos na armadilha de parecer? Quantas vezes tentamos preencher o vazio com consumo, status ou validação externa? Convido você, leitor, a olhar para dentro. O quanto do que você vive é real? O quanto é personagem?


A autenticidade tem um preço: coragem. As máscaras custam muito mais — custam paz, saúde, relacionamentos verdadeiros, liberdade financeira.


Ser exige presença, consciência e verdade e a verdade liberta.


Indicações de leitura:


            •           “A Coragem de Ser Imperfeito” – Brené Brown

            •           “Tornar-se Pessoa” – Carl Rogers

            •           “O Poder do Agora” – Eckhart Tolle

            •           “Você é Insubstituível” – Augusto Cury

            •           “A Mente Dominada” – Ana Beatriz Barbosa Silva

            •           “A Tirania do Status” (Status Anxiety, em inglês) – Alain de Botton

Silvia Alambert Hala é mãe, empreendedora educacional, cofundadora da www.creativewealthintl.org, empresa que atua no desenvolvimento de programas de educação financeira para crianças e jovens e treinamento de multiplicadores dos programas no Brasil e em diversos países há cerca de 20 anos, palestrante Tedx São Paulo Adventures, coautora do livro “Pai, Ensinas-me a Poupar” (editora Rei dos Livros, Portugal), educadora financeira de crianças, jovens e suas famílias.


RadiumWeb e Creative Wealth Internacional firmaram uma parceria colaborativa para fornecer educação financeira abrangente para brasileiros em todo o mundo.

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