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Crise Comercial Brasil-EUA: Entrevista de Fernando Haddad Revela Estratégia de Contenção e Defesa da Soberania

Fernando Haddad durante entrevista em estúdio, gesticulando enquanto fala; ao fundo, janela com vista urbana.
Fernando Haddad em entrevista à CNN Brasil: governo prepara medidas estratégicas diante do possível tarifário imposto pelos Estados Unidos. Reprodução/CNN

Publicado em 30/07/2025

Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)


Na tarde de 29 de julho de 2025, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concedeu uma entrevista exclusiva à CNN Brasil para abordar a crise comercial entre Brasil e EUA, em um momento considerado crítico para a diplomacia econômica brasileira. A entrevista, marcada por franqueza e contundência, revelou detalhes importantes do plano de contingência desenhado pelo governo federal e lançou luz sobre as diretrizes que nortearão a atuação do Brasil diante de um possível recrudescimento protecionista da potência norte-americana.


Crise Comercial Brasil-EUA: origem, riscos e imprevisibilidade


O pano de fundo da entrevista é a possível imposição de tarifas comerciais adicionais por parte do governo Donald Trump sobre produtos brasileiros. Ainda sem uma comunicação formal e transparente por parte dos Estados Unidos, o governo brasileiro optou por aguardar clareza sobre as medidas que de fato serão implementadas. Como ressaltou o ministro, nem mesmo interlocutores diretos da Casa Branca demonstram completo domínio sobre os desdobramentos da política tarifária que se avizinha.


A ausência de previsibilidade é central: não há, até o momento, definição clara sobre o escopo ou intensidade das tarifas. A postura do governo brasileiro, portanto, tem sido de prudência e preparação silenciosa.


O plano de contingência: flexível, escalonado e legalmente embasado


Um dos pontos altos da entrevista foi a explicação sobre o plano de contingência já finalizado e entregue ao presidente Lula. Elaborado em conjunto pelos ministérios da Fazenda, Relações Exteriores, Casa Civil e Desenvolvimento, o plano contempla medidas de curto, médio e longo prazos. A proposta é adaptável a diferentes cenários e setores, com ações desenhadas para proteger cadeias produtivas estratégicas e preservar o emprego.


Entre os instrumentos citados ou sugeridos:


  • Linhas de crédito subsidiadas para empresas afetadas.

  • Medidas estruturais para fomentar exportações.

  • Reformas regulatórias para facilitar acesso a novos mercados.

  • Propostas legislativas que exigirão o apoio do Congresso Nacional.


O ministro destacou que as decisões operacionais caberão exclusivamente ao presidente Lula, de acordo com o momento político e econômico mais oportuno.


Relação bilateral e soberania nacional


A entrevista evidenciou também um reposicionamento retórico e estratégico do Brasil diante de uma potência que, nas palavras de Haddad, estaria agindo de forma unilateral, protecionista e incoerente. O ministro lembrou que o Brasil tem déficit comercial com os EUA e exporta majoritariamente insumos que beneficiam o consumidor norte-americano, como carne, café, frutas e suco de laranja.


Nesse sentido, a imposição de tarifas seria prejudicial não apenas para o Brasil, mas também para o próprio mercado interno americano. Haddad advertiu sobre o risco de politização da política comercial externa americana, com forte influência de figuras ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro junto à administração Trump.


O impasse do Pix: questionamento inusitado


Curiosamente, Haddad revelou que uma das preocupações levantadas pelos EUA durante interlocuções foi o sistema Pix — visto por eles como uma inovação estatal que supostamente concorreria com soluções privadas. O ministro descartou qualquer possibilidade de privatização do Pix, apontando que a ferramenta representa um ganho estrutural para a economia brasileira, ao promover a bancarização, reduzir custos de transação e aumentar a transparência econômica.


Impactos sobre inflação e consumo interno


Entre os possíveis efeitos colaterais da crise, Haddad apontou que, paradoxalmente, o aumento da oferta interna de alimentos (dado o bloqueio parcial das exportações) pode pressionar os preços para baixo, resultando em uma inflação menor no curto prazo. No entanto, essa deflação forçada também pode derivar de perdas severas para produtores e empresas exportadoras, exigindo políticas emergenciais de socorro e reestruturação.


Fiscalização do Congresso e responsabilidade institucional


Boa parte das medidas previstas dependerá da anuência do Congresso Nacional. Haddad demonstrou confiança de que, diante de uma emergência econômica, o Legislativo não se furtará ao dever institucional de proteger setores produtivos vulnerabilizados. O ministro também reiterou o compromisso do governo com as metas fiscais e descartou mudanças nos parâmetros estabelecidos para 2024 e 2025.


Nenhuma retaliação precipitada — apenas proteção racional


A retórica do governo tem evitado o termo "retaliação". Em vez disso, Haddad falou em "medidas de proteção cabíveis", sempre dentro dos marcos legais e dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, como as normas da OMC. O objetivo, segundo ele, não é penalizar o povo brasileiro com ações simétricas, mas sim proteger a economia nacional de forma pragmática e estratégica.


O legado e a disputa política


A entrevista também abordou o tema das contas públicas. Haddad sustentou que o governo Lula entregará um resultado fiscal superior ao dos dois governos anteriores, mesmo diante de heranças como o pagamento de calotes e expansão de despesas obrigatórias. Reconheceu erros passados — inclusive no governo Dilma — mas criticou o que chamou de “viralatismo diplomático” de setores da oposição que, segundo ele, estariam minando a posição do Brasil em fóruns internacionais.


Cautela, estratégia e defesa da soberania


A fala de Fernando Haddad deixou claro que o governo brasileiro busca evitar o improviso e a retórica inflamada. Em vez disso, aposta em uma resposta institucional robusta, tecnicamente fundamentada e politicamente madura. A entrevista não apenas expôs os desafios imediatos da crise, mas também sinalizou um esforço de fortalecimento da posição internacional do Brasil, com a defesa de sua soberania, de sua tecnologia e de seus setores produtivos.


Para a audiência que acompanha o cenário econômico e político, a mensagem foi inequívoca: o governo está se preparando para o pior, mas espera — racionalmente — que o melhor prevaleça.


Acompanhem a entrevista na íntegra:



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