COPOM Mantém Taxa Selic em 15%: O Que Você Precisa Saber
- Ricardo São Pedro
- 23 de set.
- 3 min de leitura

Publicado em 23/09/2025
Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)
Análise da 273ª reunião do Comitê de Política Monetária, realizada em 16 e 17 de setembro de 2025
O Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central decidiu unanimemente manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano. A decisão, tomada na 273ª reunião realizada nos dias 16 e 17 de setembro, reflete um cenário econômico complexo que exige cautela na condução da política monetária brasileira.
Por Que os Juros Continuam Altos?
Expectativas de Inflação Desancoradas
O principal motivo para manter os juros elevados é a desancoragem das expectativas de inflação. Segundo a pesquisa Focus, as projeções para 2025 e 2026 estão em 4,8% e 4,3%, respectivamente – bem acima da meta oficial de 3%. O COPOM foi claro: "em um ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo".
Pressões Inflacionárias Persistentes
Embora a inflação de bens industrializados e alimentos tenha apresentado comportamento mais favorável devido ao câmbio mais valorizado e commodities mais baratas, a inflação de serviços continua resiliente. O mercado de trabalho brasileiro ainda mostra dinamismo, pressionando os preços do setor de serviços.
Cenário Externo Incerto
A economia internacional também contribui para a cautela. O COPOM destacou incertezas sobre a política monetária americana, possíveis tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil e tensões geopolíticas globais que afetam as condições financeiras mundiais.
A Situação Fiscal Preocupa
O Comitê expressou preocupação com o "esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal". As incertezas sobre a sustentabilidade da dívida pública brasileira podem elevar a taxa de juros neutra da economia, reduzindo a eficácia da política monetária.
Estratégia de "Esperar Para Ver"
Após uma série de aumentos na taxa de juros, o COPOM decidiu interromper o ciclo de alta para avaliar os impactos das medidas já tomadas. A estratégia atual é manter os juros em patamar "significativamente contracionista por período bastante prolongado" até que haja sinais claros de que a inflação está convergindo para a meta.
Projeções para o Futuro
As projeções oficiais do Banco Central mostram:
2025: Inflação de 4,8%
2026: Inflação de 3,6%
1º trimestre de 2027: Inflação de 3,4%
Mesmo no horizonte mais longo, a inflação ainda permanece acima da meta de 3%, justificando a manutenção da política restritiva.
Sinais Positivos no Radar
Apesar do cenário desafiador, o COPOM identificou alguns aspectos favoráveis:
Moderação gradual da atividade econômica conforme esperado
Comportamento mais benigno dos preços das commodities
Real mais valorizado, ajudando a conter a inflação de bens importados
Incipiente redução nas expectativas de inflação de curto prazo
E Quando o Copom Pode Derrubar a Selic?
O COPOM não sinalizou qualquer possibilidade de redução da Selic ainda em 2025. O Comitê enfatizou que "não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar apropriado" e que os juros devem permanecer elevados por um "período bastante prolongado".
A redução dos juros só deve ser considerada quando houver:
Reancoragem consistente das expectativas de inflação
Convergência sustentável da inflação para a meta
Moderação consolidada da atividade econômica
O Que Isso Significa Para Você?
Para consumidores e empresários, a mensagem é clara: os juros altos vieram para ficar por mais tempo. Isso significa:
Crédito mais caro: Financiamentos e empréstimos continuarão custosos
Investimentos em renda fixa: Continuam atrativos com retornos elevados
Consumo: Tendência de arrefecimento, especialmente de bens duráveis financiados
Inflação: Expectativa de desaceleração gradual, mas processo lento
O Recado Final
A decisão do COPOM reflete um Banco Central determinado a cumprir seu mandato de controle da inflação, mesmo que isso signifique manter a economia sob pressão por mais tempo. A estratégia é clara: primeiro ancorar as expectativas e garantir a convergência sustentável da inflação para depois pensar em relaxar a política monetária.
O recado para 2025 é de paciência: os juros altos são um remédio amargo, mas necessário para garantir a estabilidade de preços no médio prazo. Somente com expectativas bem ancoradas e inflação sob controle será possível retomar um ciclo de crescimento mais sustentável para a economia brasileira.
Este artigo foi baseado na ata oficial da 273ª reunião do COPOM, realizada em 16 e 17 de setembro de 2025.