Balada de um Jogador: o que o filme ensina sobre apostas on-line e educação financeira na adolescência
- Silvia Alambert Hala
- há 10 horas
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Como pais e educadores podem proteger crianças e jovens das armadilhas das bets, microtransações e da ilusão de “ganhar fácil”?

Publicado em 14/11/2025
Por Silvia Alambert Hala (@silviaalambert_edufin)
Balada de um Jogador: um espelho do comportamento financeiro moderno
O filme Balada de um Jogador (baseado no livro de Lawrence Osborne) é muito mais do que uma história sobre azar. É um retrato psicológico do que acontece quando o dinheiro deixa de ser ferramenta e passa a ser fuga.
No centro da trama está um homem que, depois de perder tudo, tenta encontrar redenção nas mesas de jogo de Macau. O que ele busca como recomeço se transforma em um ciclo de descontrole. A cada aposta, acredita estar prestes a recuperar o que perdeu, até perceber que perdeu a si mesmo.
Agora, traga essa cena para os dias de hoje. Em vez de um cassino iluminado, imagine um quarto escuro, com um adolescente de fones de ouvido e celular nas mãos. A diferença é que, nas telas, o jogo começa muito antes da vida adulta.
Do cassino ao celular: o novo vício está on-line
Hoje, a lógica do jogo está disfarçada em games e plataformas de apostas esportivas (bets). Crianças e adolescentes são expostos a influenciadores e desafios que associam emoção, status e dinheiro fácil.
O que parece entretenimento é, muitas vezes, uma porta de entrada para comportamentos financeiros arriscados. O problema vai além do gasto: é o condicionamento emocional que o jogo cria.
A dopamina gerada pela “quase vitória” é viciante. Cada microtransação, cada “skin” rara comprada por alguns reais, ensina uma lição silenciosa: que perder dinheiro é aceitável, contanto que a próxima jogada compense.
A ilusão do controle: o erro que o filme e os jovens têm em comum
Em Balada de um Jogador, o protagonista acredita que pode dominar o acaso. Ele aposta mais alto, confiante de que o azar “já passou”. Esse é o mesmo raciocínio de milhares de jovens que se arriscam em apostas e jogos on-line:
“Na próxima, eu ganho.”
“Agora vai.”
Mas a verdade é simples: o jogo não foi feito para que o jogador ganhe; foi feito para que ele continue jogando.
Quando um adolescente faz uma aposta, ele não está apenas lidando com números, mas com emoções, impulsividade, ansiedade, necessidade de pertencimento e busca por validação social. É aí que a educação financeira para adolescentes se torna essencial, porque educar financeiramente é educar para as emoções.
Educação financeira é educação emocional
Mais do que proibir, pais e professores precisam compreender e conversar.Entender o contexto do jogo é o primeiro passo para ensinar o jovem a decidir com consciência.
3 atitudes práticas que fazem diferença
Conversem sobre dinheiro com naturalidade.Explique o que é valor, trabalho, espera e escolha. O tema não deve ser tabu.
Descubram juntos como o jogo funciona.Pergunte: “Esse jogo tem apostas?” “Usa dinheiro real?” “Quem ganha quando você gasta?”
Mostrem o tempo real do dinheiro.Relacione ganhos e perdas ao esforço que há por trás: “Essa skin custa o mesmo que duas horas de trabalho.”
Essas conversas ajudam o adolescente a perceber que cada clique tem consequência — financeira, emocional e psicológica.
O protagonista do filme perde tudo não por falta de dinheiro, mas por não saber lidar com a perda. Da mesma forma, um jovem que cresce sem esse aprendizado tende a buscar no dinheiro a mesma adrenalina que encontra no jogo.
Atividade prática: o “jogo do dinheiro que some”
Uma forma simples e segura de mostrar o impacto da perda sem envolver valores reais.
Objetivo:
Ensinar crianças e adolescentes a perceberem o que sentem ao perder algo de valor, estimulando a reflexão sobre controle e limites financeiros.
Materiais:
10 fichas (papéis, tampinhas ou moedas simbólicas)
Um dado
Cronômetro ou relógio
Como jogar:
Cada participante começa com 10 fichas.
O adulto (pai ou professor) explica as regras:
“Cada rodada custa 1 ficha. Quem tirar 4, 5 ou 6 no dado ganha o dobro. Quem tirar 1, 2 ou 3 perde.”
Jogar 10 rodadas. Quem ficar sem fichas sai e observa.
No final, conversar:
Como se sentiu ao perder?
http://lucro.Na
Quis continuar jogando para recuperar?
E se as fichas fossem dinheiro real?
Reflexão final: ensinar a perder é ensinar a vencer
Mostre que o jogo foi desenhado para gerar emoção, não lucro. Na vida real, as decisões financeiras exigem cálculo, limite e propósito — tudo o que o jogo tenta apagar.
Balada de um Jogador é um alerta: quem não aprende a lidar com a perda se torna refém do risco.
O personagem do filme perdeu o dinheiro, o controle e, por fim, a esperança. Nossos filhos ainda têm tempo de aprender, se nós, adultos, estivermos atentos, próximos e dispostos a conversar.
Educação financeira começa no cotidiano: na mesada, no troco, nas pequenas escolhas. Ensinar o que é perder dinheiro é, na verdade, ensinar a ganhar consciência, e isso é o que realmente muda destinos.
Silvia Alambert Hala é mãe, empreendedora educacional, cofundadora da www.creativewealthintl.org, empresa que atua no desenvolvimento de programas de educação financeira para crianças e jovens e treinamento de multiplicadores dos programas no Brasil e em diversos países há cerca de 20 anos, palestrante Tedx São Paulo Adventures, coautora do livro “Pai, Ensinas-me a Poupar” (editora Rei dos Livros, Portugal), educadora financeira de crianças, jovens e suas famílias.
Radium e Creative Wealth Internacional firmaram uma parceria colaborativa para fornecer educação financeira abrangente para brasileiros em todo o mundo.

