Milton Friedman e a liberdade de escolher: o dinheiro sob controle
- Silvia Alambert Hala

- há 12 minutos
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Publicado em 24/10/2025
Por Silvia Alambert Hala (@silviaalambert_edufin)
Quando falamos sobre dinheiro, muitas vezes pensamos em contas, cartões e investimentos complexos, mas se olharmos através dos olhos de Milton Friedman, uma das maiores mentes da economia moderna, veremos que o dinheiro vai muito além de números: ele é uma ferramenta de liberdade.
Para Friedman, a verdadeira autonomia financeira surge quando conseguimos tomar decisões conscientes, equilibrando desejos imediatos e responsabilidade. Hoje, quero conversar sobre isso de maneira prática, para que todos que estiverem lendo esse artigo e queiram melhorar sua condição financeira, possam entender e aplicar e compartilhar esse conceito.
Milton Friedman e liberdade financeira: mais do que riqueza, é escolha
Milton Friedman sempre defendeu que a liberdade econômica é uma extensão da liberdade pessoal. Em suas palavras, “a sociedade que coloca a igualdade à frente da liberdade acabará sem uma nem outra”. No contexto financeiro, isso significa que a liberdade de escolher como usar o dinheiro é tão importante quanto a quantidade de dinheiro que se possui. Ter recursos não garante autonomia; é a maneira como usamos esses recursos que define nosso nível de liberdade. Em outras palavras: dinheiro acaba e, ainda que você receba rios de dinheiro e não saiba administrá-lo, você não terá a liberdade financeira que você tanto sonha.
Por isso, entender o dinheiro como ferramenta é crucial. Cada decisão financeira é, antes de tudo, uma decisão de escolha. Gastar, economizar, investir ou doar são exercícios de consciência. Friedman ressaltava que indivíduos responsáveis tendem a criar sistemas que favorecem tanto seu bem-estar quanto o da comunidade. Assim, liberdade financeira não é sinônimo de gastar sem limites, mas de decidir com consciência e responsabilidade.
Consciência e responsabilidade: a base da autonomia
Muitas famílias e jovens vivem sob a ilusão de que liberdade financeira significa consumir o que se quer, quando se quer. Na prática, isso gera frustração e dívidas. A liberdade verdadeira vem da capacidade de planejar e priorizar.
Estudos mostram que adolescentes que aprendem sobre gestão financeira desde cedo desenvolvem maior autocontrole e habilidades de tomada de decisão. Um estudo da Universidade de Cambridge (2017) apontou que jovens que registravam seus gastos e discutiam escolhas financeiras com adultos apresentaram menos comportamento impulsivo e maior percepção de responsabilidade.
A responsabilidade financeira, portanto, é a habilidade de equilibrar desejos imediatos com objetivos de longo prazo. Friedman acreditava que indivíduos que entendem o impacto de cada escolha financeira conseguem navegar melhor pelo mundo moderno, onde ofertas, propagandas e estímulos constantes desafiam nossa disciplina.
Ensinar crianças e adolescentes a refletirem antes de agir é mais importante do que simplesmente ensinar sobre poupança ou investimento.
Escolhas conscientes: distinguir impulso de decisão
Um dos conceitos centrais que podemos extrair de Friedman é a ideia de escolha consciente. Nem todo gasto é uma decisão pensada; muitas vezes agimos por impulso. Reconhecer essa diferença é essencial para desenvolver autonomia.
Ao ensinarmos os jovens a identificarem o que é necessidade, desejo ou impulso, criamos uma base sólida para o futuro financeiro deles. Por exemplo, comprar um lanche diário por impulso pode parecer trivial, mas se esse padrão se repetir em diferentes contextos, como, por exemplo, toda vez que sair, tem que comprar alguma coisa, ele molda hábitos que afetam a liberdade de escolha no futuro. A consciência sobre o impacto de cada decisão é o primeiro passo para que o dinheiro se torne uma ferramenta de autonomia, e não uma fonte de estresse.
Atividade prática: registro de gastos e reflexão
Para transformar teoria em prática, proponho uma atividade simples, mas poderosa, que pode ser realizada tanto em casa quanto na escola. O objetivo é ajudar jovens a perceberem como suas decisões financeiras refletem escolhas conscientes ou impulsivas.
Passo a passo da atividade:
Registro diário: Durante uma ou duas semanas, cada jovem deve anotar todos os gastos, por menores que sejam. Isso inclui dinheiro, cartão e até transferências digitais.
Classificação: Após a semana, dividir os gastos em três categorias:
Necessidade (ex.: materiais escolares, alimentação básica)
Desejo (ex.: algo que queriam comprar há tempos, mas não é essencial)
Impulso (ex.: compras feitas sem planejamento, motivadas por emoção ou estímulo externo)
Discussão em grupo ou com familiares: Incentivar uma conversa sobre cada categoria, refletindo sobre o impacto dessas escolhas e alternativas mais conscientes. Perguntas orientadoras podem incluir:
“Eu precisava realmente deste item ou foi impulso?”
“Essa escolha me trouxe liberdade ou me prendeu a um gasto desnecessário?”
“Como posso equilibrar meus desejos com meus objetivos futuros?”
Planejamento futuro: Com base na reflexão, criar um miniplano de gestão financeira pessoal, considerando prioridades e limites para gastos por impulso.
Essa atividade ajuda os jovens a perceberem que cada gasto é uma oportunidade de praticar liberdade e responsabilidade, exatamente como defendia Friedman. Além disso, promove autoconhecimento, disciplina e capacidade de decisão — habilidades essenciais para qualquer pessoa, independentemente da idade.
O papel de pais e professores
Pais e professores têm papel crucial nesse processo. Não se trata de impor regras, mas de criar espaços de reflexão e diálogo. Incentivar a autonomia financeira desde cedo ajuda a construir adultos conscientes e responsáveis.
Friedman defendia que a liberdade individual deveria ser acompanhada de responsabilidade social. Ao ensinar jovens a gerir seu próprio dinheiro, estamos não apenas formando consumidores mais conscientes, mas cidadãos capazes de contribuir de maneira responsável para a sociedade.
Quem ama também educa financeiramente.
Referências:
Friedman, Milton. Capitalism and Freedom. University of Chicago Press, 1962.
University of Cambridge. “Financial Literacy and Adolescent Decision-Making.” Cambridge Journal of Education, 2017.
Lusardi, Annamaria; Mitchell, Olivia S. The Economic Importance of Financial Literacy: Theory and Evidence. Journal of Economic Literature, 2014.
National Endowment for Financial Education (NEFE). “Financial Education for Youth: Best Practices.” 2019.
Silvia Alambert Hala é mãe, empreendedora educacional, cofundadora da www.creativewealthintl.org, empresa que atua no desenvolvimento de programas de educação financeira para crianças e jovens e treinamento de multiplicadores dos programas no Brasil e em diversos países há cerca de 20 anos, palestrante Tedx São Paulo Adventures, coautora do livro “Pai, Ensinas-me a Poupar” (editora Rei dos Livros, Portugal), educadora financeira de crianças, jovens e suas famílias.
Radium e Creative Wealth Internacional firmaram uma parceria colaborativa para fornecer educação financeira abrangente para brasileiros em todo o mundo.










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