Educação financeira para crianças e adolescentes em um mundo cada vez mais digitalizado
- Ricardo São Pedro
- há 2 dias
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Pix, criptomoedas e compras online: preparando jovens para um cenário que os pais não viveram na infância

Publicado em 18/10/2025 / 11:00
Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)
As crianças de hoje crescem em um mundo onde clicam, deslizam e digitam muito antes de tocar em dinheiro físico. O que antes se aprendia observando o caixa do supermercado ou recebendo mesada em espécie, hoje acontece por meio de transferências instantâneas, carteiras digitais e compras com um simples toque no celular. Essa nova realidade exige que pais, mães, responsáveis e educadores assumam um papel ativo na formação financeira das novas gerações.
Aproveitando o mês em que celebramos o Dia das Crianças, seguimos trazendo conteúdos que ajudam pais e mães a ensinarem sobre educação financeira aos filhos — e, claro, tios, tias, avós e todos aqueles que participam da formação das crianças e adolescentes. Em um mundo em constante transformação, preparar os jovens para lidar com o dinheiro digital é tão importante quanto ensiná-los a ler e escrever.
O novo cenário financeiro: do cofrinho ao Pix
Há pouco mais de uma década, era comum as crianças juntarem moedas em um cofrinho para comprar um brinquedo no fim do mês. Hoje, muitas delas recebem mesadas via Pix, aprendem sobre investimentos por vídeos na internet e, em alguns casos, já ouvem falar de Bitcoin antes mesmo de compreender o funcionamento de uma poupança.
Essa realidade cria um descompasso geracional: enquanto os jovens nascem imersos em tecnologias financeiras, os adultos responsáveis muitas vezes não tiveram essa vivência na infância. Isso torna ainda mais urgente desenvolver uma educação financeira adaptada ao mundo digital.
Ensinar valores antes dos números
Mais importante do que explicar taxas ou conceitos de blockchain, o primeiro passo da educação financeira continua sendo formar uma mentalidade saudável em relação ao dinheiro. Isso significa:
Ensinar que dinheiro não "surge" de uma tela — ele vem de trabalho, esforço e responsabilidade. Conversar sobre onde vem o dinheiro dos pais e como é conquistado ajuda a criar essa consciência desde cedo.
Explicar que facilidade de acesso não significa ausência de consequências. Uma compra rápida no celular pode parecer sem peso, mas toda transação tem impacto real no orçamento familiar.
Estimular escolhas conscientes: "Preciso mesmo comprar isso agora?" continua sendo uma pergunta poderosa — mesmo no ambiente digital.
Um bom exemplo prático é relacionar metas com tempo e esforço: se a criança deseja comprar um item online, pode-se estipular uma quantia de mesada ou tarefa, ajudando-a a entender que a conquista vem com planejamento.
Pix, cartões e limites claros
Dar acesso a meios digitais de pagamento pode ser uma ferramenta pedagógica poderosa, desde que acompanhada de orientação e limites bem definidos. Algumas práticas eficazes:
Definir valores fixos mensais para mesadas digitais. Se um adolescente recebe R$ 100 de mesada digital, explique claramente que isso é o limite para o mês e que não há reposição após o gasto.
Acompanhar as movimentações financeiras junto com a criança ou adolescente. Revisar gastos mensalmente transforma isso em uma oportunidade de aprendizado conjunto.
Conversar sobre golpes e segurança digital: nunca compartilhar senhas, códigos ou clicar em links desconhecidos. A educação financeira no mundo digital não é só sobre dinheiro, é também sobre proteção e responsabilidade.
Compras online e consumo consciente no digital
O ambiente digital estimula o consumo com rapidez — um clique basta. Ensinar as crianças a refletir antes de comprar é fundamental para formar consumidores críticos. Algumas estratégias úteis:
Incentivar a comparação de preços antes da compra. Mostrar como o mesmo produto pode variar significativamente entre plataformas.
Explicar a diferença entre desejo e necessidade. Um desejo é prazeroso, mas uma necessidade é essencial para o dia a dia.
Praticar o "tempo de espera": deixar passar 24 horas antes de confirmar uma compra desejada. Muitas vezes, a vontade passa e a criança economiza sem se sentir privada.
Falar sobre publicidade direcionada e notificações. As crianças precisam saber que algoritmos estudam seus comportamentos para estimular compras — esse conhecimento as torna mais críticas e resistentes.
Esses pequenos hábitos ajudam a reduzir compras impulsivas e a construir autocontrole financeiro desde cedo.
Criptomoedas e novas fronteiras financeiras
Embora pareça um tema distante para crianças, criptomoedas e ativos digitais fazem parte do vocabulário de muitos adolescentes. Não é necessário aprofundar em aspectos técnicos, mas é importante:
Explicar que se trata de investimentos com riscos reais, e não de "dinheiro fácil" ou forma rápida de ficar rico.
Mostrar a diferença entre investir e especular. Investir é comprar um ativo para médio ou longo prazo, enquanto especular é tentar ganhar rápido com flutuações — e isso é muito mais arriscado.
Estimular o senso crítico diante de "promessas milagrosas" na internet. Se algo promete retornos absurdos, é quase sempre uma armadilha.
Essa abordagem protege os jovens de armadilhas e golpes, além de prepará-los para um futuro em que esses instrumentos podem se tornar cada vez mais comuns.
O papel dos adultos: aprender para ensinar
Para muitos pais e responsáveis, falar sobre Pix, carteiras digitais ou criptomoedas pode parecer intimidador. Mas a boa notícia é que não é preciso ser especialista para começar. O mais importante é criar um espaço de diálogo e aprendizado conjunto.
Leia e explore conteúdos sobre educação financeira básica. Não precisa ser complexo — blogs e artigos acessíveis são um bom começo.
Teste aplicativos e plataformas junto com seus filhos. Aprender na prática é mais eficaz do que apenas explicar.
Transforme experiências cotidianas — como uma compra online — em oportunidades de ensino. Cada transação é uma chance de conversa sobre escolhas e consequências.
Educar financeiramente é um processo contínuo, e aprender junto com os filhos pode fortalecer vínculos familiares e preparar todos para um futuro mais consciente.
Preparar hoje para um amanhã mais seguro
A educação financeira no mundo digital não é um luxo — é uma necessidade urgente. Ao ensinar crianças e adolescentes a lidar com dinheiro de forma responsável desde cedo, ajudamos a formar cidadãos mais conscientes, seguros e preparados para os desafios de um cenário financeiro em constante mudança.
Mais do que falar de finanças, estamos falando de autonomia, segurança e liberdade.
Ricardo São Pedro é engenheiro civil com MBA em Planejamento Financeiro Pessoal e Familiar. Atua como educador e planejador financeiro, promovendo a educação financeira como instrumento de cidadania e transformação social. Idealizador da web rádio Radium, produz e apresenta programas que integram finanças, bem-estar e temas relevantes para a vida dos brasileiros. Também assina artigos no blog da rádio e participa de projetos voltados à inclusão e à segurança financeira das famílias.
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