Efeito IKEA e Dinheiro: Por que Valorizamos Mais Aquilo que Ajudamos a Construir
- Silvia Alambert Hala

- 11 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de jul.

Publicado em 11/07/2025
Por Silvia Alambert Hala (@silviaalambert_edufin)
Você já percebeu como ficamos mais orgulhosos de algo que fizemos com as próprias mãos, mesmo que não esteja perfeito? Seja montar um móvel, cozinhar uma refeição ou pintar um objeto, sentimos um apego especial quando participamos da criação. Esse fenômeno tem nome: Efeito IKEA.
O termo foi cunhado por pesquisadores Dan Ariely, Michael Norton e Daniel Mochon e se refere à famosa rede sueca de móveis IKEA, conhecida por vender produtos que os clientes montam em casa. O que os estudos mostraram é que, ao montar o próprio móvel, o consumidor tende a valorizá-lo mais do que se o tivesse comprado pronto — mesmo que a qualidade seja a mesma. Isso acontece porque o esforço investido aumenta o valor percebido.
Essa descoberta vai muito além do universo dos móveis e afeta também como nos relacionamos com o dinheiro, com o trabalho e com as conquistas pessoais. Entender o efeito IKEA nos ajuda a compreender por que certas decisões fazem sentido emocional, ainda que não sejam as mais racionais financeiramente.
A Psicologia por Trás do Efeito IKEA
Em um dos experimentos conduzidos por Ariely e sua equipe, participantes foram convidados a montar uma simples caixa de papelão e, depois, deveriam estimar quanto estariam dispostos a pagar por ela. O grupo que montou a caixa atribuiu a ela um valor significativamente maior do que aqueles que apenas a observaram pronta. Ou seja, o esforço pessoal gerou um aumento no valor percebido do produto.
Essa tendência humana de valorizar mais aquilo em que investimos esforço é um viés cognitivo comum. O cérebro associa esforço a valor. A lógica é simples: “Se eu gastei tempo e energia nisso, então deve valer mais.” Esse efeito também está ligado ao sentimento de autonomia, orgulho e competência.
Na educação financeira, o Efeito IKEA pode ser um grande aliado — especialmente com crianças e jovens. Quando envolvemos os jovens em processos financeiros, como definir metas de consumo, criar um orçamento ou economizar para algo que desejam, aumentamos o engajamento e o senso de responsabilidade.
Imagine duas situações:
Uma criança ganha um brinquedo caro de presente, sem ter participado da escolha nem entendido seu valor;
Outra criança junta mesada por algumas semanas, pesquisa preços, compara modelos e finalmente compra o brinquedo com seu próprio dinheiro.
Qual das duas, você acha, valorizará mais o brinquedo?
Essa lógica se aplica também aos adultos. Pessoas que planejam suas viagens, reformas ou mesmo a compra do carro costumam aproveitar e cuidar mais do que aquelas que apenas recebem tudo pronto.
O envolvimento no processo cria vínculo emocional e aumenta a consciência do custo.
Educação Financeira que Faz Sentido
Nos programas de educação financeira, um dos maiores desafios é fazer com que os alunos sintam que o tema tem relação com sua vida real. Trazer conceitos como o Efeito IKEA para o cotidiano ajuda a conectar emoção com racionalidade.
Quando o jovem percebe que sua opinião é considerada no planejamento de uma compra familiar ou quando ele participa da organização do orçamento da mesada, ele passa a compreender que dinheiro não nasce em árvore, nem é apenas uma ferramenta para consumo — é também um meio de realização de sonhos e metas.
Além disso, o Efeito IKEA pode ajudar a combater o consumismo impulsivo. Ao estimular a criação de metas financeiras e o esforço para atingi-las, reduzimos a tendência de buscar recompensas imediatas e incentivamos escolhas mais conscientes.
Além do experimento com caixas de papelão, o estudo “The IKEA Effect: When Labor Leads to Love” (Norton, Mochon e Ariely, 2011) também mostrou que pessoas tendem a sobrevalorizar itens montados por si mesmas, mesmo quando o resultado é objetivamente inferior. Os pesquisadores apontaram que o efeito está ligado ao orgulho pela realização e não apenas ao esforço físico.
Outras pesquisas em psicologia comportamental mostraram que esse viés influencia até mesmo a forma como empreendedores avaliam seus negócios, e como pais percebem os trabalhos escolares de seus filhos. Quanto mais envolvimento, mais valorização — mesmo que o “produto final” não seja o melhor possível.
Atividade Prática para Pais e Professores
Nome da Atividade: Construtores do Orçamento
Objetivo: Envolver crianças e jovens no processo de decisão financeira, aplicando o Efeito IKEA para desenvolver responsabilidade e valorização do dinheiro.
Idade sugerida: A partir dos 8 anos
Passo a passo:
Escolha uma situação real e simples do cotidiano, como planejar o lanche da semana, uma ida ao cinema ou um passeio de final de semana.
Apresente o valor disponível para a atividade (ex: R$ 50).
Peça aos jovens que pesquisem opções: preços, lugares, alternativas de transporte, promoções etc.
Com base na pesquisa, deixem que eles montem o “orçamento ideal”.
Após a experiência, conversem:
– Como foi participar da decisão?
– Foi mais difícil ou mais legal do que esperavam?
– Sentiram que o dinheiro foi melhor aproveitado?
Resultados esperados: Aumento do senso de responsabilidade, percepção do valor do dinheiro e orgulho pelo envolvimento no processo.Os jovens tendem a aproveitar mais a experiência e a desenvolver hábitos financeiros mais conscientes.
Quem ama também educa financeiramente.
Silvia Alambert Hala é mãe, empreendedora educacional, cofundadora da www.creativewealthintl.org, empresa que atua no desenvolvimento de programas de educação financeira para crianças e jovens e treinamento de multiplicadores dos programas no Brasil e em diversos países há cerca de 20 anos, palestrante Tedx São Paulo Adventures, coautora do livro “Pai, Ensinas-me a Poupar” (editora Rei dos Livros, Portugal), educadora financeira de crianças, jovens e suas famílias.
RadiumWeb e Creative Wealth Internacional firmaram uma parceria colaborativa para fornecer educação financeira abrangente para brasileiros em todo o mundo.










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