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A Ausência de Propósito na Sociedade Brasileira: Reflexos e Consequências

Atualizado: 10 de abr.


Homem de caiaque em direção ao pôr do sol curtindo a vida da forma que decidiu fazer, segundo o que sonhou
Fazer o que se deseja, transforma a vida para melhor.

Por Ricardo São Pedro


No panorama atual da sociedade brasileira, uma questão fundamental emerge: a ausência de propósito individual e coletivo. É uma realidade que se manifesta de diversas formas, influenciada por fatores sistêmicos que moldam a maneira como os indivíduos conduzem suas vidas e suas aspirações. Neste artigo, vamos explorar como o sistema tem conseguido através de artifícios diversos não deixar que pensemos verdadeiramente por nós mesmos.


Ausência de Propósito, Distrações e Desinformação


O sistema atual, em sua essência, promove distrações e desinformação como forma de controle. Se pararmos para pensar, há muito tempo perdemos a capacidade de imaginar e pensar sobre tudo, sobre futuro. Perdemos a capacidade, ou paramos de utilizá-la. Paramos de utilizar o que nos diferencia enquanto integrantes do gênero homus, que são: a cognição avançada, uso de linguagem complexa, comportamento cultural elaborado, habilidade de manipular o ambiente, capacidade de reflexão e autoconciência. Fazemos muito do que nos diferencia sempre com uma referência externa e perdemos a capacidade de reflexão e autoconciência por nós mesmos. É mais fácil ouvir e aceitar certas coisas e fazer daquilo a "nossa vida".


Os que entenderam que é possível manter essa capacidade de manipulação, utilizam-se dela para criar a realidade que lhes é conveniente e levam junto com eles uma massa de indivíduos que seguem sem questionar certas coisas, mesmo que por vezes, esses mesmos moanipulados, achem-se questionadores e acreditem que lutam por algo maior.


Muito poucos, dos não manipuladores, conseguem olhar isso de fora, e enxergar o quanto isso é perigoso para a sustentabilidade de nossa sociedade.


Essa capacidade de manipulação não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Se olharmos com mais calma, em todo o mundo, em cada um dos países, existe uma parcela, muito pequena, dos que estabelecem o status quo e aqueles que seguem sem questionar tudo aquilo que está posto como o "certo a ser feito".


A mídia, como ferramenta forte para essa manipulação, enche as mentes dos cidadãos com informações fúteis e irrelevantes, desviando o foco do que é verdadeiramente importante. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas, é uma epidemia, e a obsessão pelo futebol, como algo para defender e pelo que lutar, são apenas alguns exemplos dessas distrações que mascaram a busca por um propósito genuíno, um propósito próprio e que deve ser único a cada indivíduo.


Educação e Trabalho


Desde cedo, somos ensinados que a única finalidade da educação é garantir um emprego, é o que chamamos da tal educação industrial. Tanto os menos favorecidos quanto os mais privilegiados são moldados por essa mentalidade e são ensinados que a finalidade dos estudos, em certo momento da vida, é instrumentalizar cada um de nós para que possa trabalhar para alguém no futuro e garantir a sua subsitência. O sistema inculca a ideia de que devemos estudar apenas para servir aos interesses de empregadores, em vez de cultivar nossos próprios sonhos e paixões. Será que conseguiu pensar e trazer para sua vida sonhos e paixões? Sonhos e paixões que não tem uma influência externa? Com o que você tem sonhado? Essa mentalidade reduz a vida a uma mera transação comercial, onde o valor humano é subjugado ao valor monetário e nos faz peões nesse xadrez que é instituído para o benefício de poucos.


Em tempos da era da informação e rapidez da execução das coisas e atividades que nos são confiadas, cada vez trabalhamos mais e somos menos remunerados por isso. Quem emprega no Brasil, em sua grande maioria, pois não podemos de forma alguma generalizar, procura sempre pelo melhor custo-benefício das relações de trabalho, exploram o máximo do trabalhador e está sempre convencido de que aquele "colaborador" não consegue trazer o retorno financeiro (lucro) que ele espera e por isso ele é remunerado de forma suficiente. A "remuneração" será sempre proporcional a sua "capacidade de gerar receitas" para a instituição, sabendo sempre que a capacidade de gerar receitas nunca será suficiente para o lucro esperado.


Endividamento e Consumismo


Essa baixa remuneração de que tratamos anterioremente, uma realidade da maioria dos brasileiros, impõe, para muitos desinformados, que se sentem na obrigação de alcançar os padrões impostos pelo sistema, a necessidadede uso descontrolado do crédito como uma solução rápida e inconsciente para ter o que não podem ter.


Importante neste momento citar que pesquisas demosntram que apenas 5% de nossa população, econimicamente ativa, consegue salários maiores que R$ 5 mil reais mensais e apenas 10% consegue fazer mais que R$ 3,5 mil, enquanto o último salário mínimo necessário levantado pelo Dieese ficou em R$ 6.996,36, salário para o sustento de uma família de dois adultos e duas crianças.


O endividamento torna-se uma armadilha, onde indivíduos tentam preencher o vazio deixado pela falta de propósito com bens materiais e status. No entanto, esse ciclo só perpetua a insatisfação e a sensação de vazio, contribuindo para uma sociedade de indivíduos financeiramente frágeis e emocionalmente descontentes e, mais ainda, indivíduos que empobrecem a cada dia em detrimento de uma pseudo ilusão de que devem viver um padrão de vida fictício e mostrar algo que não podem ser para aqueles que os cercam. É a eterna luta pelo "ter", sem entender que "ser" sempre será mais importante e mais fácil. Será que um dia acordamos para essa realidade? Somos hoje mais de 70 milhôes de inadimplentes, indivíduos que não conseguem pagar ao menos uma conta devida.


Cultura do Entretenimento e a Religião que Aprisiona


A cultura do entretenimento, associada à obsessão pelo consumo de álcool, futebol e a jogatina, mantém as massas distraídas e alienadas. Um exemplo forte hoje em nosso país é o fenômeno das "bets", sites de apostas esportivas, onde, na ilusão de faturar algum "dinheiro fácil" muitos entregam de mão beijada o dinheiro fruto do seu trabalho de cada dia. Números recentes trazem que esse é um mercado de 100 bilhões de reais no Brasil. Uma pesquisa feita pela XP destaca que foram gastos cerca de 120 bilhões de reais em apostas no ano de 2023, imagine se esse dinheiro fosse utilizado para movimentar de verdade a nossa economia, com abertura de negócios, criação de empregos bem remunerados, desenvolvimento de tecnologias, investimentos em ciência, poderia aqui ficar linhas e linhas tratando de coisas importantes e que não são colocadas em primeiro lugar na realidade do cotidiano brasileiro. Para vocês terem uma ideia o orçamento para educação e saúde para 2024 ficou em: para o Ministério da Educação, cerca de R$ 180 bilhões, e para o Ministério da Saúde R$ 231 bilhões. Valores bem próximos do que foi gasto em apostas.


Enquanto isso, de outro lado, dito inclusive como de acordo com o que podemos entender como um caminho correto para a vida humana, um grande contigente de templos religiosos, e aqui não agravo a todos, emergem como poderosas instituições que oferecem uma alternativa ao vazio existencial que assola uma grande parcela de nossa sociedade, exercendo controle sobre as mentes e as ações de seus seguidores, limitando sua liberdade individual e, ainda, ao contrário do que acreditam, os que passam a frequentá-las, tornam-nas pessoas mais pobres espiritualmente e com um entendimento limitado da sua realidade, do que deveria ser a sua espiritualidade e do seu papel enquanto cidadãos que tem responsabilidade sobre o seu desenvolvimento de forma pessoal e do seu país por consequência.


Conclusão


Em última análise, a ausência de propósito na sociedade brasileira é um sintoma de um sistema que prioriza o lucro sobre o bem-estar humano e a "escravização" de uma grande parcela da sociedade para proveito próprio de uns poucos, covencendo a todos a viver uma verdade que não deveria ser nunca a que está estabelecida. Para romper esse ciclo de desesperança e descontentamento, que fica no final e no vivenciar tudo isso, é essencial que os indivíduos reconheçam sua capacidade de moldar seu próprio destino e busquem um propósito que vá além das expectativas impostas pelo sistema. Somente assim poderemos construir uma sociedade onde cada pessoa possa verdadeiramente se descobrir e encontrar significado para uma vida que irá lhes trazer a felicidade que tanto procuram.

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