Parentalidade e o Sucesso Financeiro: Como o Papel dos Pais Molda o Futuro Econômico dos Filhos
- Silvia Alambert Hala
- 29 de ago.
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Atualizado: 5 de set.

Publicado em 29/08/2025
Por Silvia Alambert Hala (@silviaalambert_edufin)
Quando falamos de sucesso financeiro, é comum pensarmos em boas oportunidades de trabalho, nível de educação ou até mesmo sorte, mas a ciência mostra que um dos fatores mais determinantes para a relação saudável com o dinheiro começa em casa: na parentalidade.
Pais são os primeiros educadores financeiros das crianças, mesmo quando não falam diretamente sobre dinheiro. O jeito como comentam sobre gastos, como lidam com contas, como discutem compras ou comemorações em família, tudo isso compõe a base daquilo que seus filhos levarão para a vida adulta.
O impacto da parentalidade no comportamento e sucesso financeiro dos filhos
Um estudo publicado no Journal of Family and Economic Issues (Gudmunson & Danes, 2011) mostrou que crianças cujos pais discutem abertamente finanças e permitem que elas participem de decisões simples — como planejar o orçamento de uma festa de aniversário — desenvolvem maior confiança financeira na vida adulta.
Outro levantamento da Universidade de Cambridge (Whitebread & Bingham, 2013) revelou que a base dos hábitos financeiros é formada até os 7 anos de idade. Isso significa que muito antes de um jovem abrir sua primeira conta bancária, ele já possui crenças profundas sobre dinheiro: se é fonte de ansiedade, segurança, escassez ou abundância.
Além disso, a pesquisa da T. Rowe Price (2023) sobre hábitos financeiros de famílias nos EUA indicou que 74% dos jovens que receberam orientações financeiras dos pais se sentem preparados para administrar seu próprio dinheiro, enquanto apenas 28% daqueles que não tiveram esse suporte dizem o mesmo.
Isto significa que a parentalidade, quando consciente, pode se transformar em herança intangível de altíssimo valor.
É importante lembrar que sucesso financeiro não significa apenas ter uma conta bancária cheia. Estudos de psicologia econômica, como os de Daniel Kahneman (Nobel de Economia, 2002), mostram que a relação emocional com o dinheiro é tão importante quanto a quantidade dele. Pessoas que aprendem desde cedo a adiar recompensas, a planejar e a tomar decisões com calma tendem a construir carreiras mais consistentes e a lidar melhor com crises financeiras.
Aqui entra um ponto essencial da parentalidade: ensinar pelo exemplo. Não adianta falar em poupar se os pais vivem endividados sem planejamento. O discurso vazio perde força diante da prática cotidiana.
O efeito da insegurança financeira nos filhos
Outro aspecto muitas vezes negligenciado é o impacto da instabilidade financeira familiar na vida emocional das crianças. Um relatório do Urban Institute (2017) mostrou que crianças expostas a estresse financeiro prolongado apresentam maior risco de problemas de saúde mental, dificuldades escolares e até menor mobilidade social no futuro, ou seja, a parentalidade responsável não se limita a pagar contas ou prover sustento: trata-se também de criar um ambiente onde o dinheiro não seja apenas fonte de conflito e tensão.
Cleia Cipriano, neuroeducadora e mestre em Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela Unifesp, afirma que a parentalidade encorajadora®️, baseada na disciplina positiva, vai além de um estilo de criação: ela é uma prática social transformadora. Quando aplicada ao contexto da educação financeira, ajuda a formar crianças e jovens capazes de tomar decisões conscientes, respeitar limites e, ao mesmo tempo, desenvolver autonomia.
“Paulo Freire já defendia uma educação para a autonomia, na qual cada indivíduo fosse protagonista da própria vida. Isso inclui desde escolhas simples do cotidiano até decisões complexas, como gerir recursos — sejam eles financeiros, naturais ou relacionais e, nesse sentido, a parentalidade encorajadora caminha lado a lado com a visão freireana: transformar a sociedade a partir de uma educação respeitosa, dialógica e libertadora”, explica Cleia.
“Augusto Cury também nos provoca com uma reflexão poderosa: pais inteligentes criam sucessores, não apenas herdeiros. Heranças materiais são importantes, mas o verdadeiro legado está em formar cidadãos que saibam administrar sua própria vida, cultivar valores sólidos e deixar marcas positivas no mundo. Assim, o futuro da humanidade, em sentido amplo, depende da difusão em massa dos princípios da parentalidade e da educação encorajadora: disciplina positiva, comunicação assertiva e não violenta, e respeito às diferenças. Mais do que nos preocuparmos com o mundo que deixaremos para nossos filhos e netos, precisamos nos preocupar com os filhos e netos que deixaremos para o mundo. Quando unimos esses princípios à educação financeira, o resultado é ainda mais potente: filhos preparados não só para lidar com o dinheiro, mas para fazer escolhas alinhadas a valores, propósito e bem coletivo”, completa a neuroeducadora.
Para quem deseja se aprofundar nesse diálogo entre parentalidade e finanças, recomendo:
“The Opposite of Spoiled” (Ron Lieber) – Um guia prático sobre como falar de dinheiro com crianças, sem culpa ou tabus.
“Mind Over Money” (Brad Klontz & Ted Klontz) – Explora como crenças familiares moldam nossa relação financeira.
“Raising Financially Confident Kids” (Mary Hunt) – Com orientações simples para integrar a educação financeira ao dia a dia da família.
“Pai, Ensinas-me a Poupar?” (Paulo Jorge Silveira Ferreira e Silvia Alambert) - Ensina sobre temas de finanças de forma divertida e interativa para crianças e inclui um aplicativo chamado “Primeira Poupança”, que incentiva a leitura.
“Pais Inteligentes Enriquecem seus Filhos” (Gustavo Cerbasi) – Referência nacional, trazendo a perspectiva brasileira para a conversa.
Atividade Prática para Pais e Filhos
O Jogo da Semana com 3 Potes
Objetivo:
Ensinar sobre gastar, poupar e compartilhar.
Materiais:
3 potes ou envelopes (um rotulado “Gastar”, outro “Poupar” e o terceiro “Compartilhar”).
Uma quantia simbólica (pode ser mesada, moedas ou até pontos fictícios).
Como funciona:
Defina com a criança uma “renda” semanal (R$10, por exemplo).
Oriente-a a dividir esse valor em três partes:
Gastar: dinheiro para pequenos prazeres imediatos (um doce, figurinhas, um passeio).
Poupar: dinheiro guardado para algo maior no futuro (um brinquedo, um livro).
Compartilhar: valor destinado a ajudar alguém ou contribuir para uma causa (doação, uma lembrancinha inesperada para os pais, irmão ou um amigo).
Ao final da semana, conversem sobre as escolhas. Pergunte: “O que você sentiu ao poupar? Valeu a pena gastar? Como foi compartilhar?”
Esse exercício, simples e lúdico, ensina não apenas a matemática do dinheiro, mas os valores e emoções que o acompanham.
🔑 Palavra-chave para os pais lembrarem sempre: exemplo
Silvia Alambert Hala é mãe, empreendedora educacional, cofundadora da www.creativewealthintl.org, empresa que atua no desenvolvimento de programas de educação financeira para crianças e jovens e treinamento de multiplicadores dos programas no Brasil e em diversos países há cerca de 20 anos, palestrante Tedx São Paulo Adventures, coautora do livro “Pai, Ensinas-me a Poupar” (editora Rei dos Livros, Portugal), educadora financeira de crianças, jovens e suas famílias.
RadiumWeb e Creative Wealth Internacional firmaram uma parceria colaborativa para fornecer educação financeira abrangente para brasileiros em todo o mundo.
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