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Violência no Brasil: o reflexo de um país sem estrutura

Atualizado: 30 de jul.

Gráfico de barras mostrando a porcentagem de mortes violentas no Brasil por faixa etária em 2024, com destaque para o grupo de 18 a 29 anos, que representa 48,5% das vítimas.
Distribuição das mortes violentas no Brasil por faixa etária em 2024.

Publicado em 24/07/2025

Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)


O 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela em detalhes um cenário que escancara a face mais cruel da desigualdade no Brasil: a violência. Em 2024, foram 44.127 mortes violentas intencionais (MVI) — uma média de 121 por dia. Ainda que os números indiquem uma redução de 5,4% em relação a 2023, as vítimas continuam sendo, majoritariamente, as mesmas: homens, negros, jovens, pobres e periféricos.


91% das vítimas eram homens, 79% negros e quase metade tinha até 29 anos. 73,8% foram assassinadas por armas de fogo. Quase 6 em cada 10 morreram em via pública. Estes dados não são apenas estatísticas; são sintomas de um país que falha em garantir o mínimo para a sobrevivência digna de milhões de pessoas.


A violência no Brasil como produto da exclusão


A violência não é distribuída aleatoriamente. Ela se concentra nas regiões e corpos mais vulnerabilizados por um sistema histórico de exclusões. Os estados das regiões Norte e Nordeste continuam liderando os rankings de mortes violentas — justamente onde a população tem menos acesso à educação, saúde, infraestrutura básica e oportunidades reais de trabalho.

Onde falta escola, sobra bala. Onde falta emprego, sobra repressão. Onde falta presença do Estado com políticas públicas, sobra presença com viaturas, prisões e repressão armada.


O Anuário mostra que mais de 900 mil pessoas estão presas no Brasil, com 68,7% da população carcerária composta por pessoas negras. A prisão não tem sido solução, mas apenas a extensão da desigualdade — muitas vezes aplicada seletivamente, antes mesmo do julgamento.


Invisibilidades que matam: LGBTQIAPN+ no alvo da violência


Outro dado alarmante está nos registros de crimes contra pessoas LGBTQIAPN+. Apesar da subnotificação (alguns estados sequer possuem sistemas que registrem a identidade de gênero ou orientação sexual das vítimas), os números que vieram à tona são expressivos:


  • 4.929 registros de lesão corporal dolosa contra pessoas LGBTQIAPN+ em 2024.

  • 202 homicídios dolosos, concentrados em estados como Rio Grande do Sul (46), Ceará (32) e Pernambuco (26).

  • 444 casos de estupro contra vítimas LGBTQIAPN+, sendo que 76,8% dessas vítimas foram consideradas vulneráveis.

  • A maioria das vítimas de homicídios e estupros LGBTQIAPN+ é negra, pobre e jovem.


Mais do que a violência direta, há também a violência da omissão: muitos estados não coletam dados completos. Isso impede que políticas específicas sejam formuladas e aplicadas. É a institucionalização da invisibilidade, onde a ausência de dados significa ausência de direitos.


Letalidade policial e suicídio entre agentes


A violência também aparece do outro lado da farda. Em 2024, 126 policiais cometeram suicídio, superando o número de policiais mortos em serviço (46). Essa realidade aponta para o adoecimento mental dos profissionais de segurança pública, que também são vítimas de um sistema que opera à base da pressão e da precarização.


Paralelamente, a letalidade policial permanece altíssima. Em algumas cidades, mais da metade das mortes violentas são causadas por policiais. Em relação a crianças e adolescentes, 14% das MVI foram cometidas por agentes do Estado. Isso coloca o Brasil na contramão de qualquer política pública de proteção à infância.


A violência contra mulheres continua em alta


O Anuário também mostra um crescimento nos indicadores de violência de gênero. Em 2024, foram registrados:


  • 1.492 feminicídios — sendo 64,3% dentro da casa da vítima, 97% cometidos por homens e 8 em cada 10 por parceiros ou ex-parceiros.

  • 87.545 estupros, o maior número da história.

  • 1.067.556 medidas protetivas de urgência expedidas.

  • 95 mil casos de stalking e 747 mil ameaças — a maioria dentro do ambiente doméstico.


A Polícia Militar recebeu dois chamados por minuto relacionados à violência doméstica. A violência contra a mulher é persistente, estrutural e ocorre de forma contínua, especialmente entre mulheres negras, pobres e com vínculos familiares com o agressor.


Segurança pública se faz com educação, justiça e oportunidades


É impossível dissociar os altos índices de violência da falta de investimento em políticas públicas de base. Segurança pública não se resolve apenas com repressão. É preciso garantir escola, saúde, assistência, cultura, esporte, renda e cidadania. Só assim será possível conter o avanço do crime — e principalmente do crime institucionalizado contra os mais vulneráveis.


Este é o primeiro artigo de uma série especial aqui no blog da Radium. Nos próximos textos, vamos aprofundar os principais recortes temáticos que o Anuário 2025 nos apresenta, como:


  • A violência contra crianças e adolescentes, que cresceu em todas as faixas etárias;

  • O aumento dos crimes digitais, como estelionato e golpes virtuais;

  • A situação do sistema prisional e socioeducativo;

  • O armamento da população civil e os desafios de controle;

  • A desigualdade dos gastos com segurança entre os estados brasileiros.


Acompanhe com a gente, pois entender os números é o primeiro passo para transformar realidades.


Se quiser ter acesso ao Anuário na sua totalidade acesse o link abaixo:



Se quiser observar apenas o Inforgráfico do Anuário, baixe o arquivo abaixo:



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