O Princípio de Shirky e a Resistência à Educação Financeira no Setor Público
- Silvia Alambert Hala

- 25 de jul.
- 4 min de leitura

Publicado em 25/07/2025
Por Silvia Alambert Hala (@silviaalambert_edufin)
Você já se perguntou por que certos problemas sociais parecem nunca ter fim, mesmo depois de décadas de políticas públicas, campanhas educativas e investimentos bilionários? A resposta pode estar no chamado Princípio de Shirky, formulado pelo escritor e professor Clay Shirky:
"Instituições irão sempre tentar preservar os problemas para os quais elas são solução".
A frase é provocadora, mas revela uma lógica que se repete em diversos contextos. Quando uma organização é criada para resolver um problema, ela pode acabar se tornando dependente da existência desse problema. Afinal, se o problema desaparece, a instituição perde sua função, verba, estrutura e até prestígio. Em outras palavras, resolver de vez o problema pode não ser do interesse de quem lucra com a sua existência.
O Princípio Shirky e a Armadilha Institucional
Vamos aplicar esse raciocínio à educação financeira. Ao redor do mundo, vemos governos e instituições criando programas para combater o endividamento da população, promover o uso consciente do dinheiro e incentivar a poupança. No entanto, a baixa alfabetização financeira continua sendo um problema crônico, inclusive em países desenvolvidos.
No Brasil, por exemplo, a educação financeira foi incluída na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como tema transversal desde 2020. Apesar disso, os dados continuam alarmantes:
• Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio), mais de 78% das famílias brasileiras estavam endividadas em 2024.
• Um estudo do Banco Central e da OECD revelou que apenas 30% dos brasileiros atingem o nível mínimo desejado de alfabetização financeira.
Esses números nos levam a uma reflexão incômoda: será que os programas públicos de educação financeira estão realmente comprometidos em erradicar a ignorância financeira? Ou será que parte da estrutura estatal se beneficia da manutenção do problema?
Muitos órgãos públicos e instituições privadas se especializaram em “gerenciar” o problema — mas não necessariamente em resolvê-lo. Cursos pontuais, cartilhas complexas, ações isoladas e campanhas sem continuidade frequentemente servem mais para cumprir uma formalidade do que para formar cidadãos autônomos.
Além disso, o sistema financeiro como um todo lucra com a falta de conhecimento: tarifas, juros abusivos e contratos pouco compreendidos geram bilhões em receita para bancos e financeiras. Isso cria um conflito de interesses entre promover a educação financeira de fato e manter a lucratividade do sistema baseado na desinformação.
Educação Financeira é Libertadora.
Enxergar a educação financeira como ferramenta de libertação exige um novo modelo — menos institucional e mais comunitário, prático e empático. É aqui que escolas, famílias e educadores independentes ganham protagonismo.
Experiências de sucesso ao redor do mundo mostram que o aprendizado precoce, lúdico e conectado à realidade é o que gera transformação. Programas como o Camp Millionaire™ (nos EUA e outros países) e iniciativas de cooperativas escolares no Brasil, por exemplo, envolvem crianças e adolescentes em simulações reais, tomada de decisões e projetos coletivos. E o resultado? Jovens mais críticos, autônomos e conscientes do papel do dinheiro em suas vidas.
Para quebrar esse ciclo institucional, é preciso:
Empoderar educadores com metodologias práticas e conteúdos acessíveis;
Envolver famílias no processo de aprendizagem;
Criar espaços seguros para o debate e a experimentação financeira;
Avaliar políticas públicas não pelo número de eventos realizados, mas pela mudança de comportamento gerada.
Atividade prática: “Orçamento em família — Missão: Cuidar juntos”
Objetivo:
Engajar jovens e suas famílias no entendimento e planejamento de um orçamento mensal doméstico, promovendo consciência e responsabilidade compartilhada.
Para quem:
Alunos do Ensino Fundamental II ou Médio (ideal a partir de 12 anos), com apoio da escola ou em casa.
Como fazer:
Converse com seus responsáveis e peça autorização para entender os principais gastos da casa (podem ser fictícios se preferirem).
Liste os seguintes itens:
Aluguel ou prestação da casa
Conta de luz, água, internet
Alimentação
Transporte
Lazer
Educação
Outros (parcelas, remédios, imprevistos)
Crie uma planilha ou use papel e caneta. Registre todos os gastos e receitas do mês. Se possível, use cores ou emojis para deixar mais visual e divertido.
Desafie-se: pense em 3 ideias de economia criativa para ajudar a reduzir gastos ou gerar uma renda extra em família (ex: feira de garagem, venda de doces, consumo consciente).
Apresente sua proposta para a família ou para a turma, explicando o que aprendeu e como essa experiência mudou sua visão sobre dinheiro.
Dica extra:
Transforme essa atividade em uma apresentação oral ou em um vídeo de até 2 minutos, para compartilhar com outros jovens. Você pode usar o título: “Se eu mandasse no orçamento da casa…”
Quem ama também educa financeiramente.
Silvia Alambert Hala é mãe, empreendedora educacional, cofundadora da www.creativewealthintl.org, empresa que atua no desenvolvimento de programas de educação financeira para crianças e jovens e treinamento de multiplicadores dos programas no Brasil e em diversos países há cerca de 20 anos, palestrante Tedx São Paulo Adventures, coautora do livro “Pai, Ensinas-me a Poupar” (editora Rei dos Livros, Portugal), educadora financeira de crianças, jovens e suas famílias.
RadiumWeb e Creative Wealth Internacional firmaram uma parceria colaborativa para fornecer educação financeira abrangente para brasileiros em todo o mundo.










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