Endividamento e inadimplência crescem e afetam especialmente as famílias mais vulneráveis
- Ricardo São Pedro
- há 3 dias
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Publicado em 25/05/2025
Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)
Os mais recentes dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) revelam um cenário preocupante: 77,6% das famílias brasileiras estavam endividadas em abril de 2025. Embora esse percentual seja levemente inferior ao registrado em abril de 2024 (78,5%), a inadimplência – isto é, as dívidas em atraso – avançou. No mesmo mês, 29,1% das famílias relataram estar inadimplentes, superando os 28,6% observados no ano anterior. Além disso, 12,4% dos lares afirmaram não ter condições de pagar seus débitos em atraso, percentual maior que os 12,1% de abril de 2024.
Esse panorama é reforçado por dados da Serasa, que apontam a existência de 74,6 milhões de brasileiros com ao menos uma dívida vencida em janeiro de 2025, evidenciando a amplitude do problema do endividamento no país.
Tendência de agravamento do endividamento
No comparativo anual, os números indicam deterioração. Em julho de 2024, o índice de endividamento familiar atingiu o pico de 78,8%. A CNC projeta que, até o fim de 2025, esse percentual deve crescer cerca de 2,4 pontos percentuais. A inadimplência também deve aumentar, ainda que de forma mais moderada, com acréscimo estimado de 0,5 ponto percentual. Apesar da leve queda registrada em abril, os níveis atuais seguem entre os mais altos desde agosto de 2024, revelando um enfraquecimento da capacidade das famílias de arcar com seus compromissos financeiros.
Diferenças por faixa etária e classe social
Os dados também expõem desigualdades marcantes. A faixa etária com maior incidência de dívidas vencidas é a de 30 a 39 anos: segundo o SPC Brasil (CNDL), 50,13% das pessoas nessa faixa estavam negativadas em fevereiro de 2025. Já a Serasa aponta que os devedores estão concentrados principalmente entre os 41 e 60 anos (35,1%), seguidos por pessoas de 26 a 40 anos (34,0%), com mais de 60 anos (19,2%) e jovens de 18 a 25 anos (11,8%).
No recorte por renda, a situação é ainda mais crítica entre as famílias de menor poder aquisitivo. Entre aquelas com renda de até três salários mínimos, 81,1% estavam endividadas em abril de 2025, sendo que 37% tinham dívidas em atraso e 17,5% afirmaram não ter condições de quitá-las. Em contrapartida, nas famílias com renda superior a dez salários mínimos, apenas 15,2% estavam inadimplentes, e 5,4% não conseguiram pagar os débitos vencidos.
De acordo com o presidente da CNC, José Roberto Tadros, o crescimento da inadimplência entre os grupos de menor renda é um sinal de alerta para o equilíbrio financeiro das famílias brasileiras.
Causas e consequências
Especialistas apontam uma combinação de fatores conjunturais e estruturais como causa para esse cenário. Pesquisa da CNDL/SPC mostra que imprevistos – como problemas de saúde, falecimento de familiar ou gastos emergenciais com casa e veículo – são responsáveis por 19% dos casos de inadimplência. A falta de controle financeiro aparece em seguida, sendo apontada por 17% dos entrevistados. Outros 15% atribuem as dificuldades às quedas de renda e 14% à alta generalizada dos preços.
O presidente da CNDL, José César da Costa, ressalta que juros altos e inflação persistente vêm pressionando o orçamento familiar. Ele destaca também que, apesar da existência de programas de renegociação de dívidas, os juros elevados dificultam a recuperação financeira. Soma-se a isso o consumo impulsivo, muitas vezes estimulado pelas redes sociais, que leva a compras não planejadas e compromete o pagamento de contas.
Na visão do economista João Marcelo Costa, da CNC, o problema é ainda mais grave entre os mais pobres devido à informalidade e ao alto custo do crédito para esse grupo. Mesmo com algum nível de recuperação no consumo, essas famílias continuam mais vulneráveis e com pouca margem para lidar com imprevistos. A falta de reserva e o encarecimento do crédito formam uma combinação perigosa que compromete o orçamento doméstico.
As consequências não se limitam ao ambiente familiar: o aumento da inadimplência pode reduzir o consumo, impactar negativamente a atividade econômica, dificultar o acesso ao crédito e levar os bancos a cobrarem juros ainda mais altos. Como resume José César da Costa, “a alta inadimplência no país impacta diretamente a economia e a vida financeira dos consumidores”.
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Fontes: Confederação Nacional do Comércio (CNC) – Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor; CNDL/SPC Brasil; Serasa Experian
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