top of page

Dívida Pública, Juros Altos e o Papel do Governo: Até Onde Podemos Ir?

Atualizado: 2 de ago.

Imagem conceitual de uma balança desequilibrada com moedas e títulos de um lado, e um contribuinte preocupado do outro, simbolizando o peso da dívida pública com juros altos no Brasil.
Dívida pública crescente: juros altos pressionam o orçamento e dificultam o equilíbrio fiscal.

Publicado em 30/07/2025

Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)


A dívida pública brasileira tem sido tema constante de debates — e não por acaso. O país mantém, há anos, um patamar elevado de endividamento, e a tendência, caso não haja mudanças estruturais, é de crescimento contínuo. O ponto central da discussão recai sobre os juros altos e seus efeitos diretos no aumento do custo da dívida. Mas é importante olhar além da superfície e compreender o conjunto de fatores que alimenta esse ciclo.


O que é a dívida pública e por que ela cresce?


A dívida pública é o montante de recursos que o Estado toma emprestado para cobrir déficits — quando gasta mais do que arrecada. Esse endividamento ocorre por meio da emissão de títulos públicos, que são adquiridos por bancos, fundos de investimento, seguradoras, entre outros. Esses títulos pagam juros, o que significa que, além de devolver o valor emprestado, o governo precisa pagar uma remuneração extra ao investidor.


Quando o governo brasileiro opera com déficits constantes, a dívida cresce. E cresce ainda mais quando os juros que incidem sobre ela aumentam. Para termos uma dimensão do problema: a dívida pública fechou 2024 em 76,1% do PIB, sendo que o crescimento se deve principalmente à incorporação de juros nominais (que adicionaram 7,5 pontos percentuais) e à desvalorização cambial (mais 1 ponto percentual).


O impacto dos juros altos


A taxa Selic, atualmente em 15% ao ano — o maior nível desde agosto de 2006 —, é definida pelo Banco Central e serve como referência para toda a economia. Quando o Comitê de Política Monetária (Copom) decide aumentá-la, o objetivo principal é conter a inflação. No entanto, uma consequência inevitável é o encarecimento do serviço da dívida pública — ou seja, o valor que o governo precisa desembolsar para pagar os juros dos títulos que emitiu.


Para ilustrar: com a Selic em 15%, cada R$ 100 bilhões em títulos públicos custam ao governo aproximadamente R$ 15 bilhões por ano apenas em juros. É dinheiro que sai do orçamento sem gerar contrapartida em investimentos ou serviços públicos.

É um círculo vicioso:


  • Juros altos encarecem a dívida

  • O governo precisa emitir mais títulos para rolar os vencimentos e pagar os juros

  • A dívida aumenta

  • O mercado exige juros ainda maiores, temendo o risco fiscal


E assim o país caminha perigosamente para um cenário de dívida crescente sem contrapartida de crescimento econômico.


A atuação do Banco Central e o papel do governo


O Banco Central, ao elevar os juros, visa reduzir a demanda agregada para controlar a inflação. Isso significa que a atividade econômica como um todo desacelera — empresas investem menos, o consumo diminui e, consequentemente, a arrecadação de impostos também cai.


É nesse ponto que entra uma reflexão crítica: se o setor privado é obrigado a desacelerar seus gastos e investimentos diante do cenário de juros altos, não seria razoável que o governo também adotasse uma postura mais contida?


Se o setor privado é obrigado a desacelerar seus gastos e investimentos diante do cenário de juros altos, não seria razoável que o governo também adotasse uma postura mais contida?

É evidente que há gastos públicos que não podem ser comprimidos de forma abrupta, como os previdenciários ou de saúde. Mas há um espaço real para rediscutir prioridades e rever despesas menos essenciais. Não é possível manter uma máquina pública operando em "modo expansão" enquanto o setor produtivo é colocado em "modo contenção".


Gastar mais nem sempre é solução


Em teoria econômica, há momentos em que o aumento do gasto público é necessário e benéfico — especialmente quando se destina a investimentos estruturantes que melhoram a produtividade e promovem o crescimento de longo prazo. Mas essa não é a realidade atual. Grande parte das despesas do governo está voltada para gastos correntes, com baixa capacidade de retorno para a economia.


Portanto, elevar gastos em um momento de juros altos e baixo crescimento tende a aumentar o risco fiscal, pressionar ainda mais a dívida e minar a confiança dos agentes econômicos.


Como estamos em relação ao mundo?


Para contextualizar, países emergentes como México e Chile mantêm suas dívidas públicas abaixo de 60% do PIB, enquanto economias desenvolvidas como Alemanha e Coreia do Sul operam com níveis similares ao brasileiro, mas com acesso a financiamento mais barato e economias mais produtivas. O Brasil se encontra numa situação intermediária perigosa: dívida alta como país desenvolvido, mas com custo de financiamento de país emergente.


Que alternativas temos?


Para conter a trajetória ascendente da dívida pública, o Brasil precisa de um ajuste fiscal crível e gradual, baseado em três pilares:


Revisão de gastos – Reduzir desperdícios, revisar subsídios, melhorar a alocação dos recursos públicos.

Aumento de eficiência arrecadatória – Ampliar a base tributária, combater a evasão e revisar benefícios fiscais.

Reforma estrutural e crescimento sustentável – Retomar investimentos públicos e privados em infraestrutura, educação, inovação e sustentabilidade, criando um ambiente de crescimento que, por si só, melhore a relação dívida/PIB.


A conta que não fecha


A dívida pública bruta, que fechou 2024 em 76,1% do PIB, tem projeção oficial de atingir 80,3% já em 2025. Estudos do Tesouro Nacional e de instituições independentes alertam que, sem mudanças significativas, podemos ultrapassar os 90% do PIB nos próximos anos, o que nos coloca em uma zona de risco muito próxima à observada em países com histórico de crises fiscais.


Mais preocupante ainda: quanto maior a dívida, mais difícil se torna reduzi-la apenas com crescimento econômico. É necessário atuar de forma coordenada — Banco Central, Ministério da Fazenda e Congresso Nacional — com foco no equilíbrio fiscal de longo prazo.


Responsabilidade Fiscal x Crescimento Econômico


O Brasil precisa superar a falsa dicotomia entre "responsabilidade fiscal" e "crescimento econômico". Um país endividado demais, com juros no maior patamar em quase duas décadas e governo gastando como se estivesse em expansão, não cresce de forma sustentável. E sem crescimento, a dívida só se torna mais cara.


A questão não é apenas "culpar os juros" — é assumir que a política fiscal também precisa mudar de rota. Reduzir o déficit, gastar melhor e investir com inteligência são os únicos caminhos para reverter a espiral da dívida.


E você, ouvinte da Radium, o que pensa sobre esse tema? Como equilibrar as contas públicas sem comprometer os serviços essenciais? Compartilhe sua opinião nas nossas redes sociais e participe do debate. Afinal, essa discussão diz respeito ao futuro de todos nós.

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page