Os Descontos Indevidos no INSS: Como Bilhões Foram Desviados dos Benefícios de Aposentados Brasileiros
- Ricardo São Pedro

- 12 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de jul.

Publicado em 12/07/2025
Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)
Por anos, aposentados de todo o Brasil, especialmente os rurais, foram vítimas silenciosas de um esquema bilionário que drenou recursos diretamente de seus benefícios previdenciários. A fraude, agora desvendada por órgãos de controle como a CGU e a Polícia Federal, expôs um mecanismo engenhoso — e perverso — que envolveu sindicatos, associações, dirigentes políticos e a própria máquina pública. Pior: o ressarcimento aos prejudicados, anunciado com rapidez incomum, está sendo feito, em sua maior parte, com dinheiro público — pago por todos nós.
Como funcionava o esquema de descontos indevidos no INSS
Ao se aposentar, muitos beneficiários — especialmente os aposentados rurais, que se tornaram o principal alvo desse esquema — já encontravam em seus primeiros extratos descontos mensais realizados por supostas associações representativas. A promessa era de serviços como assistência jurídica, convênios de saúde, descontos em medicamentos e até auxílio funerário. Na prática, porém, a maioria jamais usufruiu de qualquer benefício.
A auditoria feita pela CGU é categórica: mais de 97% dos entrevistados não reconheceram ter autorizado os descontos. Muitos sequer sabiam da existência das entidades que apareciam nos contracheques.
Esses descontos, que variavam entre R$ 20 e R$ 50 mensais, pareciam pequenos. Mas multiplicados por milhares de aposentados — muitos dos quais nem sabiam estar "associados" —, geraram uma receita bilionária para essas instituições.
Uma fraude com aparência de legalidade
A legislação permitia que o INSS firmasse Acordos de Cooperação Técnica com entidades que se diziam representativas. Com esse acordo em mãos, as associações passaram a ter o direito de descontar valores diretamente dos benefícios previdenciários, sem qualquer controle externo eficaz.
Entre 2019 e 2024, o total estimado de valores desviados ultrapassa R$ 6,3 bilhões.
A proximidade dessas entidades com figuras políticas poderosas levantou questionamentos sobre a real finalidade de seus acordos com o INSS. Em vez de atuar em prol dos aposentados, o que se vê são indícios de enriquecimento ilícito, desvio de finalidade e uso político do sistema previdenciário.
O ressarcimento: rápido demais, com dinheiro público
Se o golpe foi construído ao longo de anos, o ressarcimento foi decidido em velocidade recorde. O governo anunciou que iniciaria a devolução dos valores cobrados indevidamente, com milhares de beneficiários já recebendo restituições diretamente na folha de pagamento.
Mas de onde vem esse dinheiro?
Apesar de a AGU ter conseguido bloquear cerca de R$ 2,5 bilhões em bens das associações, a devolução está sendo feita, em sua maior parte, com recursos da Previdência Social e, possivelmente, do Tesouro Nacional — ou seja, com dinheiro dos impostos pagos pela população.
Em outras palavras, o povo brasileiro está pagando a conta de um golpe arquitetado dentro do próprio sistema público, com participação de entidades que deveriam proteger os aposentados.
O silêncio das investigações
Outro ponto que chama atenção é a assimetria entre a rapidez da devolução e o andamento das investigações. As ações judiciais da AGU inicialmente excluíram entidades politicamente ligadas ao governo, como a Contag, sendo incluídas apenas após pressão pública.
Ao mesmo tempo, muitos parlamentares aparecem como signatários de emendas que favoreceram as associações, inclusive modificando regras sobre os descontos diretos nos benefícios durante a tramitação da MP 871, entre 2019 e 2020.
As investigações da Polícia Federal ainda estão em andamento, com operações realizadas em diversos estados, mas ainda sem resultados conclusivos sobre responsabilização criminal.
A farsa travestida de assistência
Talvez o aspecto mais cruel de toda essa história seja a forma como a fraude foi sustentada: usando como justificativa a proteção de idosos vulneráveis. As entidades se apresentavam como defensoras dos direitos dos aposentados — principalmente os beneficiários rurais, que se tornaram instrumentos preferenciais para o desvio indireto de recursos públicos através desses descontos — mas, na verdade, transformaram esses mesmos idosos em alvo fácil de arrecadação constante e silenciosa.
Criou-se um modelo que legalizou o desvio de dinheiro público, sob o manto de assistência social.
Por que precisamos falar sobre isso
Este escândalo não é apenas uma história de corrupção. É uma denúncia sobre como o Estado pode falhar — ou se omitir — diante de interesses organizados. É também um alerta: não basta devolver o dinheiro. É preciso responsabilizar quem construiu e sustentou esse sistema.
A CPI em andamento no Congresso pode ser uma oportunidade de esclarecer os fatos e punir os responsáveis — inclusive políticos, se for o caso. Mas isso só acontecerá se a sociedade continuar atenta e cobrando respostas.
A sua indignação, caro leitor, é legítima. E precisa ecoar.
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Fontes consultadas:
Controladoria-Geral da União (CGU) - Relatório de auditoria sobre descontos indevidos no INSS
Polícia Federal - Operação "Peneira" sobre fraudes nos benefícios previdenciários
Advocacia-Geral da União (AGU) - Ações judiciais para ressarcimento aos cofres públicos
Agência Brasil - Cobertura jornalística sobre o caso
G1 - Reportagens sobre as investigações e valores envolvidos
Folha de S.Paulo - Matérias sobre entidades investigadas
CNN Brasil - Acompanhamento das operações policiais
O Globo - Reportagens sobre a CPI dos descontos indevidos
Ministério da Previdência Social - Dados oficiais sobre suspensão dos acordos
Congresso Nacional - Informações sobre a CPI em andamento










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