Crédito no Brasil em Massa: Como o Sistema Financeiro Lucrativiza a Ignorância Financeira
- Ricardo São Pedro

- 20 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de jul.

Publicado em 20/07/2025
Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)
Em teoria, o crédito é uma ponte entre o presente e o futuro. Permite antecipar conquistas, alavancar projetos e atravessar emergências financeiras com dignidade. Mas no Brasil, essa ponte virou um labirinto de endividamento sistemático, que sustenta um modelo de negócio altamente lucrativo, não pela sofisticação dos produtos financeiros, mas pela quantidade massiva de contratos celebrados com consumidores desinformados.
Sim, o crédito no Brasil é um jogo de escala, não de eficiência. E essa é uma das chaves para entender o fenômeno que enfrentamos.
Crédito no Brasil: Margens apertadas, lucros garantidos
Vamos a um exemplo prático: imagine um empréstimo de R$ 1.000 parcelado em 13 vezes de R$ 92,50. O rendimento líquido, após custos operacionais e o custo do capital, dificilmente ultrapassa 10% ao ano. Pode parecer pouco para quem olha isoladamente. Mas o segredo está no volume.
Se uma empresa realiza essa operação milhares de vezes por mês, o pequeno lucro individual se transforma em um fluxo financeiro robusto e estável. Em um ambiente de altíssima demanda por crédito, onde milhões de pessoas dependem desse recurso para sobreviver, o negócio é extremamente rentável mesmo quando o spread é modesto.
O endividamento como modelo de negócios
O Brasil criou uma cultura econômica em que o crédito se transformou em complemento de renda, e não em ferramenta estratégica. Essa distorção não é fruto do acaso; ela é o resultado direto da ausência histórica de educação financeira, somada a um sistema que se alimenta dessa lacuna.
A lógica é simples e implacável:
O consumidor toma crédito porque não planeja;
Paga juros compostos porque não compreende o mecanismo;
Compromete o futuro financeiro porque vive o presente no limite.
As instituições financeiras, cientes desse comportamento, operam com tranquilidade: mesmo quando as operações parecem ter um lucro unitário modesto, a demanda constante e crescente transforma o negócio em uma máquina de gerar receita.
O imposto invisível dos juros
Há um aspecto ainda mais perverso nessa equação: o juro alto praticado sobre a base da população mais vulnerável funciona como um imposto não declarado. Enquanto parte da sociedade brasileira dedica parcela significativa da renda mensal ao pagamento de dívidas – muitas vezes contraídas para custear o básico – o sistema financeiro segue capturando valor na outra ponta, sem grandes obstáculos.
Esse mecanismo, embora legal, amplia desigualdades e compromete a capacidade da população de construir reservas, investir ou pensar em aposentadoria. Não é exagero dizer que o crédito, quando mal utilizado, é uma ferramenta de empobrecimento social disfarçada de oportunidade.
O que fazer diante desse cenário?
O mercado financeiro não vai parar de oferecer crédito fácil. A engrenagem está montada, funcionando e, do ponto de vista do sistema, é racional e eficiente explorar a ignorância financeira em larga escala.
O desafio, portanto, é outro: quebrar esse ciclo com educação e consciência crítica.
É necessário ensinar – e repetir quantas vezes for preciso – que:
Crédito não é renda.
Parcelar consumo corrente é, muitas vezes, uma armadilha matemática.
O custo do dinheiro, quando não compreendido, vira um predador silencioso da estabilidade financeira.
Uma cultura de independência, não de dívida
A sociedade brasileira precisa abandonar a crença de que viver de crédito é normal. Não é. É sintoma de um sistema onde poucos sabem as regras e muitos pagam caro para participar do jogo.
Transformar essa realidade exige mais do que produtos financeiros inovadores; exige uma revolução cultural.
Enquanto essa mudança não acontece, o mercado seguirá ganhando na escala – multiplicando lucros sobre o comportamento de consumo de uma população que ainda não aprendeu a dizer "não" ao endividamento automático.
Gostou deste conteúdo? Compartilhe com quem precisa entender os perigos do crédito fácil e nos ajude a promover a educação financeira no Brasil!










Comentários