Brasil Sai do Mapa da Fome 2025: FAO Confirma Redução da Insegurança Alimentar
- Ricardo São Pedro

- 2 de ago.
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Atualizado: 10 de ago.

Publicado em 02/08/2025
Por Ricardo São Pedro (@radiumweb)
Brasil Fora do Mapa da Fome da ONU: O Que Isso Realmente Significa para os Brasileiros
Em julho de 2025, o Brasil saiu oficialmente do Mapa da Fome da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), conquistando uma marca histórica ao apresentar menos de 2,5% da população em risco de subnutrição. Esta conquista, divulgada no relatório "O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025" (SOFI 2025), representa uma redução significativa da insegurança alimentar no Brasil em relação ao ápice de 7,3% registrado no período 2019-2021.
No entanto, há uma diferença considerável entre "estar fora do mapa da fome" e "garantir segurança alimentar e nutricional para todos os cidadãos". Os números mostram avanços inegáveis: até o final de 2023, cerca de 24 milhões de pessoas foram retiradas da insegurança alimentar grave, e a prevalência caiu de 8,5% para 3,4% da população. Ainda assim, essa conquista estatística merece ser analisada com cautela e contextualizada adequadamente.
Como o Brasil Saiu do Mapa da Fome: Critérios da FAO Explicados
O Que É o Mapa da Fome da FAO?
De acordo com a metodologia da FAO para o Mapa da Fome, um país é considerado fora desta classificação quando menos de 2,5% da sua população consome, de forma crônica, menos calorias do que o mínimo diário necessário — estimado entre 1.800 a 2.200 kcal por dia, dependendo de faixa etária, sexo e condições fisiológicas. A FAO utiliza médias móveis de três anos (triênio 2022-2024 no caso brasileiro) para evitar oscilações pontuais, tornando a classificação mais estável e confiável.
Brasil Reduz Subnutrição: Números Oficiais 2025
No entanto, esse critério considera apenas o quantum de calorias, e não a qualidade do alimento ingerido. Isso significa que, tecnicamente, uma dieta baseada majoritariamente em produtos ultraprocessados ou pobres em nutrientes pode atender ao requisito calórico, mas não à necessidade real de nutrição para o desenvolvimento saudável. Ou seja, sair do Mapa da Fome não garante alimentação de qualidade — muito menos nutrição adequada.
Insegurança Alimentar no Brasil 2025: Dados Atuais e Tendências
Redução Histórica da Fome no Brasil
Os dados mais recentes sobre insegurança alimentar no Brasil mostram uma transformação impressionante. Entre 2022 e 2023, o número de brasileiros em situação de insegurança alimentar severa caiu de 17,2 milhões para 2,5 milhões — uma redução de 85%. Segundo dados do IBGE, em 2023, 151,9 milhões de brasileiros estiveram longe da fome, representando uma melhoria substancial em relação aos anos anteriores.
Desafios da Segurança Alimentar Além dos Números
Contudo, mesmo com esses avanços estatísticos notáveis, o Brasil ainda enfrenta desafios de qualidade nutricional. O impacto de uma alimentação precária, ainda que suficiente em calorias, permanece preocupante: aumento de casos de obesidade associada à desnutrição, déficit de crescimento em crianças, baixa imunidade, prejuízo à capacidade cognitiva e problemas metabólicos em adultos. Estes são desafios silenciosos para o sistema de saúde pública brasileiro.
Sustentabilidade das Políticas Públicas Contra a Fome
Programas de Combate à Fome: Resultados e Perspectivas
A alimentação adequada e saudável exige mais do que o mínimo calórico: demanda recursos financeiros para garantir variedade, qualidade, acesso regular e preparo adequado dos alimentos. Em um contexto em que o poder de compra ainda é afetado pela inflação dos alimentos e o acesso ao crédito permanece restrito para muitas famílias, a sustentabilidade desses avanços depende de políticas públicas de segurança alimentar consistentes e de longo prazo.
Brasil e a Manutenção dos Resultados no Combate à Fome
A melhoria dos indicadores de fome no Brasil está intimamente ligada à ampliação de programas de transferência de renda e políticas de segurança alimentar. No entanto, sem evidência clara de aumento estrutural de empregos formais e, principalmente, de salários dignos que permitam alimentação adequada, paira a questão sobre a sustentabilidade da redução da fome no médio e longo prazo.
O paradoxo brasileiro revela-se quando trabalhadores formais, recebendo salário mínimo, ainda enfrentam dificuldades para garantir alimentação de qualidade à sua família. Com o salário mínimo necessário estimado em R$ 7.528 e o atual em R$ 1.518, evidencia-se que a questão da fome no Brasil transcende o desemprego, alcançando também aqueles que estão inseridos no mercado formal de trabalho.
É fundamental que as famílias que saíram da situação de insegurança alimentar severa tenham acesso a oportunidades de geração de renda sustentável e não dependam exclusivamente de programas assistenciais. Sem políticas públicas integradas de capacitação profissional e inserção produtiva, os avanços conquistados podem ser temporários.
Educação e Desenvolvimento: Pilares da Segurança Alimentar Duradoura
Educação Como Base da Segurança Alimentar
Nenhuma solução para a erradicação da pobreza — e, por consequência, para a fome — será sustentável sem o fortalecimento da educação. Educação de qualidade, inclusiva, com permanência estudantil, integração com o mundo do trabalho e valorização dos profissionais da área são fundamentais. Sem isso, a mobilidade social permanece uma promessa distante, e as políticas de redistribuição de renda continuarão sendo paliativos, e não instrumentos de emancipação.
Investimentos Estruturais para Manter o Brasil Fora do Mapa da Fome
Os dados mostram que é possível reduzir drasticamente a fome em um período relativamente curto, mas a construção de uma sociedade verdadeiramente justa e com segurança alimentar plena exige investimentos estruturais em educação, saúde, infraestrutura e geração de empregos dignos.
Brasil Fora do Mapa da Fome 2025: Conquista Real com Desafios Futuros
Reconhecendo os Avanços na Redução da Fome
Os dados que retiram o Brasil do Mapa da Fome representam uma conquista real e significativa que deve ser celebrada. A redução de 24 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave é um feito notável que demonstra a eficácia de políticas públicas bem estruturadas de combate à fome. No entanto, esses números não devem anestesiar o debate público sobre os desafios que persistem.
O Futuro da Segurança Alimentar no Brasil
Sair do Mapa da Fome significa que a prevalência da subnutrição severa passou a afetar um percentual menor da população — o que é inequivocamente positivo. Contudo, não é sinônimo de justiça social plena, muito menos de segurança alimentar e nutricional para todos os brasileiros.
Enquanto os números melhoram nos relatórios internacionais da FAO, milhões de brasileiros ainda enfrentam desafios relacionados à qualidade da alimentação, ao acesso a alimentos nutritivos e à estabilidade de renda. A fome aguda pode ter diminuído drasticamente, mas as questões estruturais que geram vulnerabilidade alimentar permanecem, incluindo a insuficiência salarial crônica que afeta mesmo trabalhadores formalmente empregados.
Manter o Brasil Fora do Mapa da Fome: Próximos Passos
O combate definitivo à insegurança alimentar exige mais que estatísticas favoráveis; exige a manutenção da vontade política, compromisso ético continuado e políticas públicas de longo prazo, com foco integrado em educação, saúde, trabalho, política salarial estrutural e nutrição de qualidade. O Brasil mostrou que é capaz de mudanças rápidas na redução da fome — agora o desafio é torná-las permanentes e abrangentes, enfrentando também a questão da defasagem salarial que impede o acesso pleno à alimentação adequada.
Ricardo São Pedro é engenheiro civil com MBA em Planejamento Financeiro Pessoal e Familiar. Atua como educador e planejador financeiro, promovendo a educação financeira como instrumento de cidadania e transformação social. Idealizador da web rádio Radium, produz e apresenta programas que integram finanças, bem-estar e temas relevantes para a vida dos brasileiros. Também assina artigos no blog da rádio e participa de projetos voltados à inclusão e à segurança financeira das famílias.







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