A mudança silenciosa
Atualizado: 12 de jul. de 2022
O princípio básico da ética libertária dentro do anarcocapitalismo é basicamente que não podemos, em hipótese alguma, agir de forma agressiva para com alguém.
O anarcocapitalismo, que, por fim, começa a ser comentado e mais difundido, apesar de todas as barreiras culturais que ainda precisa quebrar, vai muito além do que prega o liberalismo. Não foca apenas nas relações comerciais, como o liberal clássico; vai bastante além. Ele envolve também as relações entre as pessoas, a ética libertária e a moral. Leva em consideração três pilares que são e devem sempre, sem exceção, ser soberanos e respeitados: vida, liberdade e propriedade privada.
Quando falamos em propriedade privada, não pensemos apenas em nossa casa ou terreno, mas sim em nossos corpos, por exemplo. O princípio básico da ética libertária dentro do anarcocapitalismo é basicamente que não podemos, em hipótese alguma, agir de forma agressiva para com alguém. Claro que se nos agredirem temos o direito de devolver a agressão, mas jamais desencadearmos algo por meio dela.
Dentro dessa lógica, os três pilares citados acima não podem nem devem ser desrespeitados, principalmente de forma agressiva. Ou seja, não se pode aceitar qualquer ação coercitiva de alguém sobre nós ou sobre o que nos pertence. E aqui chegamos ao cerne da questão.
Nos ensinam, desde que nascemos, que temos um “contrato” (mesmo que ele nunca tenha sido assinado) com o Estado e governos centrais. E que estes podem agir coercitivamente conosco (na verdade, sempre agem assim). Até por isso, nos parece extremamente estranho questionar esse poder que tanta força exerce sobre nossas vidas, costumes, valores, comportamentos diários, etc.
Você já pensou como o Estado age sobre nós? Impostos são cobrados de forma coercitiva. Educação? Aprendemos e estudamos o que algum órgão público aprova. Saúde? Mesmo a privada é altamente regulada por regras determinadas pelo Estado. O que comemos, bebemos, como nos comportamos, como produzimos em nossas empresas – tudo, absolutamente tudo sob regras desenhadas por esse grande Leviatã.
Mas, afinal, quem é o Estado? É o João, a Maria? O Estado não é uma pessoa, e por isso soa abstrato e simbólico. Assim, fica mais fácil colocar a “culpa” ou “responsabilidade” em cima dele. O Estado é formado por pessoas que, em grupos seletos e pequenos, desenham para nossas vidas tudo que mencionei acima. Um grupo que se acha superior a nós, meros civis. Criam algumas regras de conduta e de comportamento, colocam no papel, e pronto!
Aprendemos que não podemos questionar por que está escrito no papel e, portanto, é lei. Quem somos nós para ousar discordar da lei?
Nem o Estado nem a política jamais vão resolver – ou, ao menos, têm interesse em resolver – os problemas de forma geral. Afinal de contas, esse é o único ponto que sustenta a justificativa de sua existência. Inventam problemas para proverem soluções (que, no geral, levam a problema ainda maior no longo prazo) e criam “soluções” para nós, deixando-nos, como cidadãos, inertes, sem questionar esse círculo vicioso.
E pior: brigamos e discutimos por isso. Claro que há governos piores ou melhores, mas a solução não passa por eles. Passa, sim, por uma sociedade brigando por reformas estruturais, sabendo esperar o médio prazo para seus resultados. Uma sociedade pleiteando impostos baixos para pessoas físicas e jurídicas, especialmente, regras trabalhistas flexíveis (ou nulas, se possível), facilidade de empreender e gerar emprego, baixíssimo gasto público, etc. Sem isso, a briga da sociedade polarizada é inócua.
O Estado, por menor que seja, tende a crescer. Afinal, é formado por seres humanos no poder que tendem a se agrupar para procurar o que é melhor para si mesmos. Acredito piamente que temos que buscar o crescimento e o desenvolvimento individual antes, e isso leva ao bem coletivo (e não o contrário), mas, por isso mesmo, a solução não passa pelo Estado. Ele é na verdade a raiz de todos os problemas.
Hoje já começamos a viver sem ele, sem acreditar em sua autoridade, mesmo sem perceber. Há alguns anos, jamais entraríamos em um carro que não fosse táxi (com placa vermelha, autorizado pelo Estado a rodar) porque seria arriscado. Hoje fazemos isso diariamente, com aplicativos de transporte. Jamais alugaríamos uma casa de desconhecidos. Aí veio o Airbnb. Cartórios? Que coisa antiquada. Justiça? Como nos EUA onde já é maioria, aqui cresce bastante a justiça privada (eu, particularmente, só uso a justiça privada com câmaras de arbitragem). Será que o Estado não está morrendo por inanição? Me refiro a daqui a 50 ou 100 anos, especialmente com custo de transação caindo a zero, pelo desenvolvimento de tecnologia.
Como ter uma vida sem Estado? Isso parece impossível, não é mesmo? Claro. É algo que jamais nos ensinaram e fere qualquer princípio básico do senso comum. Um dia nos pareceu impossível, até que... As coisas mudam aos poucos. Hoje usamos os serviços que citei acima – muitos pagos com criptomoedas (zero interferência do Estado). E, sem perceber, não queremos mais esse gigante burocrata fungando no nosso pescoço.
Acho que estamos diante de uma mudança importante para o próximo século. As reais mudanças culturais acontecem sem que percebamos e não como uma imposição ou intervenção.
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